Brasil – O deputado federal Eduardo Bolsonaro usou as redes sociais nesta terça-feira (5/3) para criticar o diretor Walter Salles após o filme “Ainda Estou Aqui” vencer o Oscar de Melhor Filme Internacional. Ele afirmou que a produção trata de uma “ditadura inexistente” e classificou o cineasta como “psicopata cínico” por suas críticas ao governo dos Estados Unidos.

Declarações nas redes sociais

Eduardo Bolsonaro escreveu no X (antigo Twitter) que Salles estaria “reclamando do governo americano” enquanto faz um filme sobre um período que, segundo ele, não existiu. “Acredito que o sujeito que bate palmas para prisão de mães de família, idosos e trabalhadores inocentes, enquanto faz filme de uma ditadura inexistente e reclama do governo americano, que lhe dá todos os direitos e garantias para que suas reclamações públicas e mentirosas sejam respeitadas pelo sagrado direito da liberdade de expressão, é, em essência, um psicopata cínico”, declarou.

O deputado também sugeriu que, caso o diretor criticasse decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, estaria preso. “Se criticasse o regime instaurado pelo Alexandre de Moraes, ele estaria na cadeia gozando de todo o esplendor da democracia da esquerda”, afirmou, sem se atendar ao paradoxo de estar livre e criticando Moraes.

Contexto da crítica

A declaração do deputado fez referência a uma entrevista de Walter Salles, na qual o cineasta comentou sobre o crescimento do autoritarismo no mundo e como “Ainda Estou Aqui” repercutiu nos Estados Unidos. “O autoritarismo faz graça no mundo”, afirmou Salles, acrescentando que os americanos se identificaram com o filme por perceberem paralelos com a realidade do país no momento.

A declaração de Salles ecoou sentimento expresso na própria imprensa dos EUA. A revista The Hollywood Reporter chegou a dedicar uma coluna ao fato de a realidade apresentada no filme brasileiro poderia representar o futuro dos Estados Unidos em breve. Para imigrantes sem documentos, a história de “Ainda Estou Aqui” já é realidade no país, com pessoas tiradas de suas famílias e enviadas para locais desconhecidos, sujeitos à violência estatal.

O longa retrata a trajetória de Eunice Paiva, viúva do ex-deputado Rubens Paiva, sequestrado e morto por militares durante a ditadura militar brasileira. A produção foi baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva e se tornou o primeiro filme brasileiro a vencer um Oscar.

Eduardo Bolsonaro enfrenta acusações graves

Por suas ações, Eduardo Bolsonaro está sendo alvo de representações na Procuradoria-Geral da República (PGR) e no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Parlamentares governistas o acusam de atuar junto a autoridades dos Estados Unidos para impor sanções ao Brasil e ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, caracterizando possível quebra de decoro parlamentar.​

Deputados como Lindbergh Farias (PT-RJ), Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Rogério Correia (PT-MG) protocolaram ações solicitando a investigação de Eduardo Bolsonaro por “lesa-pátria” e a apreensão de seu passaporte. As acusações apontam que o parlamentar estaria promovendo retaliações internacionais contra o Brasil e tentando obstruir investigações relacionadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. ​

As ações podem resultar na cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro, que é cotado para presidir a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Creden) da Câmara. Lindbergh Farias afirmou que não aceitará que Eduardo assuma a presidência da comissão, alegando que ele poderia utilizá-la para articular contra o Brasil. ​

Termos como “traidor da pátria” e “traidor do Brasil” viralizaram no X junto com as denúncias.

Em postagens nas redes sociais, o filho de Jair Bolsonaro afirmou que sua prioridade é lutar pela “liberdade de presos injustamente” pela destruição da Praça dos Três Poderes e criticou adversários políticos.

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