Pelo menos um integrante da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) tentou, sem sucesso, se aproximar do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF). Emissários ligados à facção viajaram até Brasília na tentativa de agendar reuniões com o magistrado, conforme revela investigação conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MPSP).

O Procedimento Investigatório Criminal (PIC), com 683 páginas de quebras telemáticas e registros extraídos de celulares apreendidos, detalha a atuação de Rodrigo Felício, o “Tiquinho”, preso na Penitenciária de Segurança Máxima Presidente Venceslau II, no interior de São Paulo. Mesmo sob rígido esquema de segurança, o criminoso enviava cartas manuscritas para seus comparsas com o apoio da companheira, que atuava como “pombo-correio” durante visitas.

Em um dos bilhetes, Tiquinho orientava a filha sobre como deveria abordar Nunes Marques. A jovem relatou, em conversas por WhatsApp com a madrasta, ter participado de um jantar em uma embaixada, onde conheceu pessoas com supostos contatos no Supremo Tribunal Federal. Ela afirmou que tentariam marcar uma reunião diretamente com o ministro e que receberiam uma resposta em breve.

As mensagens interceptadas indicam que, mesmo após várias tentativas, o encontro nunca aconteceu. A investigação não encontrou qualquer indício de que Nunes Marques tenha se reunido com membros ligados ao PCC. Além disso, o ministro rejeitou seis pedidos apresentados pela defesa de Rodrigo Felício em processos sob sua relatoria.

Em novas conversas obtidas pelo Gaeco, a filha de Tiquinho informa que, caso a reunião se concretizasse, enviaria um telegrama codificado para o pai. Depois de uma visita à prisão, a madrasta relatou que Tiquinho dispensaria a contratação de advogado se a aproximação com o ministro fosse bem-sucedida, pois “ele saberia o que fazer” com o processo já em suas mãos.

Ainda segundo as investigações, a jovem relatou dificuldades para estabelecer contato confiável no STF, mesmo após tentativas de aproximação via pessoas que trabalharam próximas ao ministro. As mensagens mostram que, apesar da insistência, o plano fracassou.

Questionado, o gabinete de Kassio Nunes Marques informou ter analisado oito ações envolvendo Rodrigo Felício. Em seis delas, o ministro proferiu decisões desfavoráveis ao preso, confirmadas pela Segunda Turma do STF. Nas outras duas, a defesa de Felício solicitou redistribuição dos processos para outro relator.

A assessoria do ministro esclareceu que ele não conhece nem recebeu qualquer pessoa ligada ao caso. Apenas um advogado de Rodrigo Felício, Aury Lopes Jr., solicitou formalmente uma audiência, realizada por videoconferência com um juiz instrutor do gabinete, prática comum para sustentar argumentos da defesa.

Nos próximos dias, novas revelações da investigação do Gaeco irão expor detalhes sobre a logística milionária do tráfico internacional de drogas comandado por Tiquinho. As cartas escritas à mão, mesmo de dentro da prisão, indicam movimentações que envolvem o setor de inteligência do PCC, revelando a atuação estratégica da chamada “sintonia restrita”, núcleo de decisão e comunicação da cúpula da facção criminosa.

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