
Brasil – O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que vive nos Estados Unidos desde fevereiro e tem atuado contra os interesses do Brasil, deve continuar exercendo seu mandato sem pisar em território nacional. Para isso, o PL articulou uma manobra política que desafia qualquer noção de razoabilidade, ética e moralidade.
Como funcionou a operação
Nesta terça-feira (19), a deputada Caroline de Toni (PL-SC), líder da minoria na Câmara, abriu mão do cargo para que Eduardo fosse indicado ao posto. A estratégia garante a ele o status de líder, função que tem prerrogativas especiais no funcionamento do Parlamento — entre elas, a dispensa de justificar presença em plenário.
Com isso, Eduardo, que está autoexilado nos EUA, evita acumular faltas e afasta o risco de perder o mandato por ausência. Em contrapartida, Caroline de Toni deve assumir a vice-liderança, cuidando da articulação presencial em Brasília.
A operação foi costurada pelo líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), e já comunicada ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). Motta não apenas foi informado da manobra como também deu sua anuência, ao não apresentar resistência à indicação, o que abriu caminho para oficializar a mudança.
Sóstenes já trata a gambiarra como vitória garantida. Nas redes sociais, correu para parabenizar o filho do ex-presidente — condenado pela Justiça por diversos crimes, inclusive pela tentativa de golpe de Estado — pelo novo cargo de fachada, já que Eduardo segue nos Estados Unidos conspirando contra o Brasil.
“Força nessa missão, Eduardo. Confiamos na sua liderança firme e corajosa para enfrentar o sistema e defender o povo brasileiro”, escreveu o deputado, em tom de adulação e completa submissão.
O “precedente” de 2015
Aliados de Eduardo alegam que a operação é respaldada por um precedente de 2015, quando a Mesa Diretora da Câmara, sob o comando de Eduardo Cunha, restringiu as justificativas de ausência a licenças médicas e missões oficiais. Na ocasião, líderes partidários e membros da Mesa ficaram dispensados de registrar presença em plenário.
Essa decisão, contudo, não autorizava trabalho remoto, nem muito menos atuação do exterior. Ela apenas retirava a obrigação de registro de presença física para alguns cargos de liderança. O único período em que parlamentares puderam trabalhar e votar à distância foi durante a pandemia de Covid-19, em caráter excepcional e temporário.
Portanto, usar o precedente de 2015 como justificativa para sustentar um suposto “mandato remoto” de Eduardo Bolsonaro é, no mínimo, uma interpretação controversa. Aquele episódio tratava apenas de regras para justificar ausências no plenário, não de autorizar parlamentares a exercer o mandato fora do país. Assim, é possível que não exista base legal no Regimento Interno da Câmara que respalde a atuação ou o voto de Eduardo a partir dos Estados Unidos.
Quanto custa ao contribuinte
Mesmo sem cumprir suas funções no Brasil, Eduardo Bolsonaro pesa no bolso da população. O deputado recebe R$ 46 mil de salário por mês e ainda conta com uma verba de gabinete de cerca de R$ 133 mil mensais para custear assessores e estrutura em Brasília.
Na prática, são R$ 170 mil a R$ 200 mil por mês pagos com dinheiro público para manter um parlamentar que está fora do país. Em cinco meses de 2025, os gastos já ultrapassam R$ 520 mil apenas em verbas de gabinete. No acumulado do ano, a conta pode chegar a quase R$ 2 milhões.
O que está em jogo
A manobra do PL, avalizada por Hugo Motta, escancara o uso político das regras internas da Câmara para proteger um deputado que não cumpre suas obrigações. Mais do que isso: mostra como a estrutura do Parlamento pode ser manipulada para atender interesses pessoais e familiares, às custas do povo brasileiro.


