Mundo – O presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a elogiar Lula (PT), seu homólogo no Brasil, durante encontro com Javier Milei, presidente da Argentina, que foi aos Estados Unidos em busca de ajuda financeira.

Durante a coletiva, Trump foi questionado sobre o motivo de estar dedicando atenção aos países da América do Sul. O presidente, então, deu a entender, nos melhores moldes coloniais, que deseja ser uma espécie de influência e orientação política para a região.

Além disso, Trump mencionou novamente o encontro que teve com Lula na ONU, elogiou-o mais uma vez e também recordou a recente conversa telefônica que teve com o líder brasileiro.

“Se a Argentina for bem, outros vão seguir o exemplo. E muitos já estão seguindo […] e o Brasil, tive uma conversa muito boa com o presidente [Lula]. Eu o encontrei nas Nações Unidas antes de subir para discursar”, disse Donald Trump.

Conversa entre Trump e Lula repercute no mundo: “abandono de Bolsonaro”

A conversa por telefone entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump nesta segunda-feira (6) foi destacada pela mídia internacional, em diferentes continentes, como um alívio nas tensões bilaterais. O diálogo, que durou 30 minutos, foi o primeiro entre os dois desde o rápido encontro durante a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) em setembro.

O caso Brasil-EUA ganhou repercussão internacional após o presidente republicano proferir ataques, aplicar sanções e tarifas e tentar interferir no país, que passou a ser destacado na imprensa como um exemplo de democracia por enfrentar Trump, e condenar o ex-presidente acusado de tentativa de golpe de Estado. Agora, o tom da imprensa internacional é de um estreitamento das relações, embora ainda seja cedo para afirmar isso.

Ao reproduzir a notícia, o El País ressaltou o pedido pelo fim das tarifas por Lula e lembrou das tensões entre os países:

“O diálogo telefônico entre os presidentes parece pavimentar uma relação”

A Bloomberg destacou a reação positiva de Fernando Haddad e informou que o Brasil busca uma solução para a crise tarifária via diálogo, embora a necessária regulamentação das redes sociais ainda represente um impasse.

Segundo o The Guardian, a ligação entre os presidentes ocorreu em clima “amigável” e um encontro presencial deve acontecer no próximo mês, no Haiti. Contudo, o professor da FGV Matias Spektor alertou ao jornal britânico que é “cedo demais para declarar o fim do atrito” entre os dois governos.

“O Haiti é um exemplo em que a demanda vinda da Casa Branca poderia ser atendida pelo Brasil – e é algo que o Brasil já fez no passado e… que Lula poderia apresentar como a contribuição do Brasil para a ordem mundial, a estabilidade e a paz em um momento em que as coisas estão tão confusas”, afirmou Spektor ao The Guardian.

De acordo com Spektor, em entrevista ao The Guardian, Lula não poderia intervir na questão envolvendo Bolsonaro, embora pudesse apoiar Trump na proposta de mobilizar “Forças de Repressão a Guangues” no Haiti por meio do Conselho de Segurança da ONU.

O jornal Washington Post destacou que a chamada entre Lula e Trump durou cerca de meia hora e que, nesse tempo, o presidente brasileiro solicitou o fim das tarifas de 40% sobre produtos do Brasil, além de reforçar o convite para que Trump participe da COP 30 em Belém.

Já a Reuters informou que durante a ligação de 30 minutos, o gabinete de Lula afirmou que os líderes discutiram suas impressões positivas de um breve encontro nas Nações Unidas no mês passado e trocaram números de telefone para abrir uma linha direta de comunicação. Segundo a agência, o presidente brasileiro sugeriu que a reunião ocorra durante a cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) neste mês, na Malásia, e expressou sua disposição de viajar para os Estados Unidos.

A agência lembrou que os dois líderes estão em desacordo há meses sobre o julgamento e a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, e que Trump aumentou tarifas sobre diversos bens brasileiros de 10% para 50%, classificando o caso como “caça às bruxas”. A Reuters ainda escreveu que Trump designou o secretário de Estado Marco Rubio para continuar as negociações tarifárias com o vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o ministro das Finanças, Fernando Haddad.

Além disso, a agência destacou o fator café nos EUA com o tarifaço, que está em falta nos mercados estadunidenses:

“Os preços do café nos EUA, que tradicionalmente dependem do Brasil para um terço de sua oferta de grãos de café, subiram acentuadamente devido em grande parte às tarifas, que forçaram os torrefadores a comprar café mais caro em outros lugares”

A BBC News informou que, segundo uma fonte próxima ao governo brasileiro, a nomeação de Marco Rubio como principal negociador sobre a questão tarifária ainda estava sendo revisada pela equipe liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. De acordo com o jornal, a fonte afirmou que, para o governo, seria preferível ter um negociador diretamente conectado ao presidente Lula e com seu aval, em vez de alguém sem comunicação direta com Trump.

“Outra fonte, também envolvida nas negociações e falando à BBC Brasil sob condição de anonimato, foi mais direta: disseram que o governo de Lula teria preferido um interlocutor diferente de Rubio”

Um dos principais jornais asiáticos, o The Japan Times destacou que Jair Bolsonaro foi ignorado por Trump, tanto na ligação, quanto na Truth Social.

“Quando o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e EUA O presidente Donald Trump finalmente falou sobre suas diferenças na segunda-feira, o homem no centro de suas disputas de meses nem mereceu uma menção.

Um post de mídia social de Trump saudando a discussão como ‘muito bom’ não incluiu o nome de Jair Bolsonaro, o ex-presidente brasileiro cujo julgamento por acusações de tentativa de golpe inspirou o líder dos EUA a impor tarifas de 50% sobre muitos bens brasileiros no início deste ano”

Ainda segundo o periódico, “se o chamado em si sugeriu um degelo nas relações entre Brasil e EUA, o súbito abandono de Bolsonaro ofereceu um sinal ainda mais claro de que o impulso permanece firmemente para trás Lula, o líder de esquerda que já viu seus índices de aprovação aumentarem em meio a sua disputa com Trump”, escreveu.

“Mas o governo de Lula sente que Trump, e não Rubio, acabará impulsionando o processo de tomada de decisão, disse uma das autoridades brasileiras. E depois de meses em que Eduardo parecia ser o único brasileiro com acesso de alto nível a Washington, é Lula que parece ter estabelecido uma ligação direta com o próprio Trump: eles trocaram números de telefone durante a ligação, e Lula, disse uma autoridade brasileira, disse a Trump para ligar para ele a qualquer momento”.

Artigo anteriorMotorista de aplicativo é indiciado por vandalizar equipamento de videomonitoramento em Manaus
Próximo artigoÁguas de Manaus é multada em R$ 80 mil por não fornecer dados sobre tratamento de esgoto