
Brasil – No mês de abril, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou. No mês passado, o indicador ficou em 0,43% em abril, ante uma alta de 0,56% em março. O resultado foi puxado pelos aumentos nos preços dos remédios e dos alimentos, embora a inflação do último grupo tenha desacelerado perante o mês anterior.
O resultado de abril ficou perto do esperado. As projeções de analistas captadas em pesquisa do jornal Valor apontava para uma alta de 0,42% em abril.
Segundo o IBGE, foi a maior alta para os meses de abril desde 2023, quando o índice subiu 0,61%.
No acumulado em 12 meses, o IPCA registrou alta de 5,53% em abril, acima da meta perseguida pelo Banco Central (BC), que é de 3,0%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Alimentos sobem 0,82% em abril
Os preços dos alimentos foram o destaque negativo no IPCA de abril, com avanço de 0,82%, e o maior impacto (0,18 ponto percentual) de alta no índice do mês. A maior variação foi registrada no grupo Saúde e cuidados pessoais (1,18%). O grupo Transportes registrou queda de 0,38%.
Nos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, o resultado de abril foi o seguinte:
Alimentação e bebidas, 0,82%
Habitação, 0,14%
Artigos de residência, 0,53%
Vestuário, 1,02%
Transportes,-0,38%
Saúde e cuidados pessoais, 1,18%
Despesas pessoais, 0,54%
Educação, 0,05%
Comunicação, 0,69%
Segundo o IBGE, embora tenham puxado a inflação de abril, os preços do grupo Alimentação e bebidas arrefeceram o ritmo de alta. Em março, o grupo tinha subido 1,17%, ante 0,82% mês passado.
“Contribuíram para esse resultado as altas da batata-inglesa (18,29%), do tomate (14,32%) e do café moído (4,48%). No lado das quedas destacam-se a cenoura (10,40%), o arroz (4,19%) e as frutas (0,59%)”, diz o IBGE, em nota.
No acumulado em 12 meses, os preços médios do café ao consumidor saltaram 80,2%. Segundo o IBGE, é a maior alta nessa base de comparação, pelo menos, desde dezembro de 2012.
Conforme o instituto, “a alimentação fora do domicílio registrou alta de 0,80% em abril, frente ao 0,77% de março”. “O subitem lanche acelerou de 0,63% para 1,38% em abril, e a refeição (0,48%), por sua vez, mostrou desaceleração frente ao resultado de março (0,86%)”, diz a nota do IBGE.
Inflação espalhada
Embora a inflação de alimentos tenha desacelerado em abril, a dinâmica de reajustes de preços ficou mais espalhada.
Segundo o IBGE, o “índice de difusão” – que mede a proporção dos itens que tiveram alta em determinado período, em relação ao total de itens cujos preços são pesquisados – dos produtos alimentícios subiu para 70% em abril, ante 55% em março.
Com isso, o índice de difusão total do IPCA subiu para 67% em abril, ante 61% em março. É a maior difusão desde dezembro de 2024, quando o índice ficou em 69%.
Fernando Gonçalves, gerente de pesquisa do IPCA, explicou que, apesar da maior difusão no grupo Alimentos e Bebidas, o ritmo de alta agregada do segmento diminuiu na passagem de março para abril porque itens com elevado peso no índice ficaram mais baratos.
Foram os casos do arroz e do ovo. O ovo, segundo o IBGE, ficou 1,29% mais barato em abril. No acumulado de 12 meses, a média dos preços do alimento ainda registram uma alta de 16,74%.
— Os alimentos oferecem pressão no índice, por questões climáticas — afirmou Gonçalves.
Remédios sobem 2,32% em abril
O grupo que registrou a variação mais forte no IPCA de abril foi Saúde e cuidados pessoais (1,18%). “O resultado foi influenciado pelos produtos farmacêuticos (2,32%), após a autorização do reajuste de até 5,09% nos preços dos medicamentos, a partir de 31 de março, e pelos itens de higiene pessoal (1,09%)”, informou o IBGE.
De acordo com o instituto, no grupo Vestuário (alta de 1,02%), destacam-se os aumentos nos preços de roupa feminina (1,45%), roupa masculina (1,21%) e calçados e acessórios (0,60%).
No grupo Despesas pessoais (avanço de 0,54%), os destaques foram as altas no cigarro (2,71%) e nos serviços bancários (0,87%).
No grupo Habitação, houve uma desaceleração, de 0,24% em março para 0,14% em abril, após um recente vaivém nos custos da conta de luz ter ficado para trás. Em abril, a energia elétrica residencial registrou queda de 0,08%.
Ainda nesse grupo, “a taxa de água e esgoto (0,25%) incorpora o reajuste de 4,17% nas tarifas em Goiânia (4,17%), a partir de 1º de abril, e de 9,98% em Recife (1,67%), vigente desde 26 de abril”.
Inflação de serviços sobe 6,03% em 12 meses
Com o ciclo de alta da Selic — a taxa básica de juros, que subiu 0,5 ponto percentual, para 14,75% ao ano — chegando perto do fim, como sinalizou o próprio Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) na quarta-feira, a expectativa agora é que, finalmente, os preços comecem a ceder.
Nos últimos meses, o encarecimento dos alimentos e dos serviços vem preocupando. A inflação de serviços acumulou alta de 6,03% em 12 meses até abril.
As projeções de analistas de mercado, conforme a edição mais recente do Boletim Focus, do BC, apontam para uma alta de 5,5% no IPCA deste ano, acima da meta de 3,0%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
O aumento do espalhamento da inflação, apontado pelo índice de difusão, e a dinâmica pressionada dos preços de serviços são costumeiramente vistos por analistas como elementos negativos da composição da inflação. Isso porque os saltos nos preços de alimentos, em parte devido a eventos climáticos, tendem a ser choques temporários.
Gonçalves, do IBGE, chamou a atenção para os efeitos do clima sobre os alimentos para explicar o fato de que o IPCA, na variação acumulada em 12 meses, está acima do teto da meta desde outubro do ano passado. Mas reconheceu que há pressões do lado da demanda também:
— No momento em que a economia está hoje, observamos que a taxa de desemprego está diminuindo, temos um maior número de pessoas com emprego de carteira assinada, que traz mais segurança para as famílias, tem um aumento da população ocupada, tem aumento da massa salarial. Isso tudo contribui para uma dinâmica de consumo.
E a demanda pressionada ocorre num momento de encarecimento de insumos também.
— Por outro lado, também tem fatores que oneram os custos de produção. É a energia elétrica que sobe, a taxa de água e esgoto, o diesel. Toda essa composição tem efeito sobre o nível de preços – completou Gonçalves.
Guerra comercial muda cenário
Agora, espera-se que o esfriamento da demanda provocado pelas condições financeiras mais restritivas reduza as pressões por reajustes nos preços. E esse esfriamento poderá ganhar mais intensidade por causa da guerra comercial deflagrada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, como descreveu o Copom no comunicado após o fim da reunião na quarta-feira.
O tarifaço espalhou incertezas entre empresas e consumidores, o que tende a desacelerar a economia e, assim, aliviar as pressões inflacionárias — pelo menos fora dos EUA, onde tarifas de importação mais altas deverão resultar em reajustes de preços no curto prazo.
E parte desse choque poderá resultar em alívios justamente em itens que têm sido vilões da inflação. Ao descrever o “balanço de riscos” para a inflação, o comunicado do Copom incluiu, entre os vetores a segurar os preços, uma queda nas cotações das commodities, diante da perspectiva de desaceleração da economia global.
Dependendo da intensidade, esse movimento poderia tirar a pressão dos preços dos alimentos, que dependem das cotações das matérias-primas agrícolas, e dos combustíveis. Desde que Trump anunciou o tarifaço, as cotações do petróleo vêm caindo, e a Petrobras já reduziu os preços do diesel nas refinarias três vezes recentemente.