Brasil – Menos de 48 horas após anunciar a sua candidatura à Presidência da República, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) admitiu ontem que pode abandonar o projeto político. Após participar de um culto em Brasília, celebração que era considerada sua primeira agenda de pré-campanha, Flávio disse que pode ser retirar da corrida eleitoral, mas ressaltou que isso tinha “um preço” a ser negociado. Sem apoio do Centrão e pressionado pelo fraco desempenho em pesquisas, o parlamentar indicou que condicionará o movimento à aprovação, pelo Congresso, de uma anistia a seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que cumpre pena de 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado.

Pesquisa Datafolha divulgada no sábado mostra que apenas 8% dos entrevistados acham que Flávio é o melhor nome para ser apoiado pelo pai. Ele perde para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, a opção mais viável para o eleitor, com 22%, e para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), com 20%. Outro dado do levantamento mostra que 50% das pessoas ouvidas afirmam que não votariam em um candidato indicado pelo ex-presidente. Votariam com certeza 26%, e 21% disseram que talvez votassem.

— Olha, tem uma possibilidade de eu não ir até o fim. Eu tenho um preço para isso. Vou negociar — disse o senador.

Desde sexta-feira, bolsonaristas já ventilavam nas redes sociais que o lançamento de Flávio poderia fazer parte de “uma estratégia” para livrar Bolsonaro da prisão. A ideia é que o Centrão seja flexível para endossar uma proposta mais ampla de perdão em troca de uma “união da direita” com a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Hoje, o chefe do Executivo estadual é considerado o postulante mais competitivo para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que espera buscar a reeleição. A avaliação é a mesma feita pelo Palácio do Planalto.

Após a celebração do culto ontem, Flávio foi direto sobre o seu posicionamento ao ser questionado pela imprensa e divulgou em suas próprias redes a hipótese de uma desistência.

Pressão por anistia

O senador disse que falaria mais sobre o assunto hoje, após reunião com lideranças do Centrão. Flávio espera que o projeto da anistia seja pautado ainda esta semana. Para o encontro, estão previstas a presença dos presidente de partido Valdemar Costa Neto (PL), Ciro Nogueira (PP), Antonio Rueda (União Brasil) Marcos Pereira (Republicanos), além do líder do PL no Senado, Rogério Marinho (RN).

— Espero que os presidentes da Câmara (Hugo Motta, do Republicanos-PB) e do Senado (Davi Alcolumbre, do União Brasil-AP) cumpram aquilo que eles nos prometeram quando eram candidatos ainda, de que pautariam a anistia — afirmou o filho do ex-presidente.

No Congresso, há dificuldades para votar até mesmo o projeto mais restrito relacionado ao tema, o da dosimetria, relatado pelo deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP). O texto reduz a pena de alguns crimes, no Código Penal, cometidos pelos condenados da tentativa de golpe.

Ontem, integrantes do Centrão evitaram dizer se a negociação terá algum resultado. O presidente de uma das siglas do grupo, porém, avalia que o gesto inesperado é sinal de que Flávio não atua como uma liderança política de verdade.

Já para governistas, a postura é vista como um “vexame”. O líder do PT, Lindbergh Farias (PT-RJ), tratou a candidatura de Flávio como “uma piada”.

“O termo usado por ele, ‘eu tenho um preço’, escancara o método da família: a chantagem”, escreveu o petista nas redes sociais.

Flávio pretende visitar novamente o pai na prisão amanhã, quando o senador deve atualizá-lo sobre o resultado das conversas:

— Agora é trazer as pessoas certas para o nosso lado. Nesse primeiro momento, vamos conversar, sem compromisso de absolutamente nada, para que todos possamos trocar impressões.

Anteontem, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) gravou um vídeo e qualificou a candidatura do irmão como um “xeque-mate” contra quem apoia outros nomes da direita e “um baita recado” aos eventuais postulantes “do sistema” — numa referência à preferência por Tarcísio.

Nome preferido do Centrão, o governador foi elogiado por Flávio ontem, que chamou Tarcísio de “principal cara do time”:

— A primeira pessoa que eu quis conversar (sobre a pré-candidatura) foi o Tarcísio. E a reação dele foi a reação que eu também teria se fosse o contrário, se fosse o Tarcísio indicado pelo presidente Bolsonaro para disputar as eleições: foi muito boa.

O senador reiterou que a decisão de se candidatar foi tomada depois de conversas com o ex-presidente e que o pai já o sondava “há bastante tempo”. Segundo Flávio, o anúncio foi feito após uma reunião familiar na última semana.

Flávio também diz que pretende atrair aliados para a candidatura. Partidos do Centrão, no entanto, se mostraram contrariados com a escolha do senador e, como noticiou o GLOBO ontem, avaliam adotar a neutralidade em 2026.

Mercado “precipitado”

Ontem, o senador ainda minimizou a reação do mercado ao anúncio da sua candidatura. Na sexta-feira, a Bovespa, que se valorizava pela manhã, passou a cair e, por volta das 15h, registrava queda de quase 2%. O pessimismo do mercado veio após a notícia de que Bolsonaro escolheu o senador como seu candidato à Presidência para as eleições de 2026. Flávio disse que avalia a reação como “natural”, mas que houve uma “análise precipitada”.

O senador afirmou ainda que ele é um “Bolsonaro diferente, mais centrado, que conhece política, conhece Brasília, que vai querer fazer uma pacificação no país”.

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