Consumidores em São Paulo começam a sentir os reflexos do boicote promovido por frigoríficos brasileiros contra o Carrefour. Em visitas a três lojas da rede, 34 dos 60 clientes entrevistados nesta segunda-feira (25) relataram a falta de produtos específicos nas prateleiras.

O boicote teve início após o Carrefour França anunciar que deixará de comercializar carne proveniente do Mercosul. Até agora, 23 frigoríficos brasileiros, incluindo grandes players como JBS, Marfrig e Masterboi, suspenderam o fornecimento para a rede, o que já afeta mais de 150 lojas no Brasil.

Na unidade da avenida Ribeiro Lacerda, zona sul de São Paulo, prateleiras destinadas a marcas como Friboi estão praticamente vazias. Mauro Oliveira, 53, foi surpreendido ao não encontrar o corte de carne que desejava e precisou optar por outra marca. “Sabia do boicote, mas não imaginava sentir os efeitos tão rápido”, disse.

Em outra unidade, na rodovia Anchieta, a aposentada Deyse Leite, 74, também encontrou dificuldades: “Procurei produtos da Masterboi e não achei. É estranho ver as prateleiras com menos opções.”

Carrefour busca alternativas

Em nota, o Carrefour lamentou a situação e reforçou seu compromisso com o agronegócio brasileiro. A empresa afirmou que está tomando medidas para minimizar os impactos do boicote e garantir o abastecimento, apesar de admitir que o estoque pode variar entre as lojas.

Fontes do setor indicam que o desabastecimento pode trazer perdas financeiras significativas para o Carrefour, já que carnes representam de 6% a 12% das vendas da rede no Brasil. Especialistas apontam que a paralisação no fornecimento pode reduzir o tráfego de clientes, prejudicando também outras categorias de produtos.

Impacto do boicote no mercado brasileiro

A ação dos frigoríficos é vista como uma resposta direta às declarações do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, que anunciou a interrupção das compras de carne do Mercosul, justificando a decisão como uma demanda do setor agrícola francês.

Embora a França represente apenas 0,02% das exportações de carne bovina brasileira, o gesto foi considerado protecionista por entidades do agronegócio, que exigiram retratação. Representantes de 44 associações do setor publicaram uma carta aberta criticando a postura do Carrefour e destacando a qualidade das carnes produzidas no Mercosul.

Enquanto o Carrefour tenta reverter a situação, a pressão cresce, com discussões na Associação Brasileira de Proteína Animal e na Associação Brasileira de Bares e Restaurantes sobre possíveis adesões ao boicote.

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