A jornalista Basília Rodrigues, comentarista da CNN Brasil, teria sido vítima de racismo por parte de colegas da emissora, segundo relatos publicados nesta quinta-feira (15) pelo site do Alma Preta, uma agência de jornalismo especializada na temática racial, e confirmados pela reportagem.

Funcionários teriam reclamado sobre ela estar “descabelada”, “desgrenhada”, “com olheiras”. O “fundo” dos vídeos gravados enquanto a jornalista trabalhava em home office, por suspeita de Covid-19, também não agradou a chefia, segundo os relatos. A edição do canal teria optado por ocultar a sua imagem, deixando apenas a voz no ar.

Basília é comentarista política da CNN desde março de 2020, a estreia do canal no Brasil, e faz entradas ao vivo com informações dos bastidores de Brasília. Antes, ela foi repórter da rádio CBN por 12 anos na capital federal e recebeu prêmios como o Troféu Mulher Imprensa.

Em nota, a CNN Brasil afirma que a acusação “é gravíssima”. O canal informa que o caso está sendo investigado pelo departamento de compliance –setor que busca garantir que a empresa aja dentro das normas.

Segundo o canal, Basília Rodrigues afirmou não ter conhecimento dos fatos narrados. A reportagem ainda não conseguiu conversar com a jornalista. A emissora também informa que “não tolera qualquer tipo de discriminação, seja racial ou de outra natureza, e apura com rigor e transparência qualquer denúncia”.

Em seu perfil no Twiter, a jornalista agradeceu o apoio do canal e lamentou enfrentar o racismo cotidianamente.

“Agradeço às mensagens de solidariedade e apoio que recebi. Agradeço também pela posição adotada pela CNN Brasil. O relato é grave e está sendo apurado. Deixa reflexões para todos sobre o que não queremos ser, parecer, nem deixar dúvidas, sobre o que não queremos para nós nem para os outros”, escreveu Basília.

“Por fim, dizer a vocês que o racismo e o negro convivem dia a dia. É uma relação insuportável, uma companhia inconveniente que está a bordo, em uma mesma viagem. Às vezes, me pergunto, haverá ponto final? Logo, penso que esse não é o mal do negro, esse é o mal do racismo”, disse a comentarista na rede social.

A reportagem ouviu funcionários da emissora que reafirmaram que a jornalista sofre uma espécie de perseguição no canal e recebe tratamento diferenciado dos colegas.

Por exemplo, embora seja comum orientar os jornalistas, quando estão ao vivo, a arrumar o cabelo, um editor teria reclamado para a equipe que Basília estava “descabelada”, sem a ter alertado, como seria a praxe.

Um funcionário que preferiu não ter seu nome divulgado por temer retaliações afirma que o comum seria dizer algo do tipo “Basília, quando você mexeu o seu cabelo de um lado para o outro, ele ficou fora do lugar. Só mexer ele de novo”, acrescentando que um cuidado mantido com qualquer apresentador não foi estendido à jornalista.

Nesse momento, ainda segundo os relatos, outro funcionário teria questionado o editor se a analista fosse loira e de olho azul, ele estaria “enchendo o saco”

Quanto ao cabelo de Basília, diz a emissora em nota que “nunca houve e nunca haverá qualquer pedido de mudança a ela e a nenhum outro colaborador”. “A CNN entende que o cabelo afro é um símbolo importante de resistência e empoderamento.”

Há ainda relatos de que editores de imagem estariam ocultando a comentarista, deixando apenas a voz dela no ar, com uso de imagens de apoio para ilustrar as entradas ao vivo.

Teria havido ainda reclamações do fundo que aparecia nas entradas que a jornalista fazia de sua casa, por causa das restrições da pandemia. Foram criticadas uma parede toda branca e outra com uma prateleira. Em outra das entradas ao vivo, a reclamação foi de que Basília estaria olhando para cima no vídeo.

O funcionário ouvido pela reportagem explica que, quando a pessoa começa a falar, seu rosto aparece em tela cheia, sem os demais participantes, e que a imagem do jornalista se alterna com imagens sobre o tópico em debate. No caso de Basília, entrava apenas a imagem alternativa, não a da jornalista, disse.
Outro funcionário afirmou que os motivos para a cobertura da imagem de Basília era seu cabelo e o cenário –este último desagradaria a chefia.

Segundo os relatos, é difícil determinar de quem teria vindo a ordem. Um dos funcionários ouvidos cita uma deliberação de várias pessoas com cargo de chefia, entre gestores e diretores de redação, que coordenam e avaliam o que vai para o ar.

Segundo a CNN Brasil, foram feitos ajustes no set da casa da jornalista como a correção do fundo e da iluminação, um procedimento padrão da emissora.

Ainda de acordo com o canal, não há diretriz nenhuma para não mostrar a imagem da jornalista. “Nunca houve qualquer orientação neste sentido. Quem acompanha a nossa programação sabe que Basília é presença constante em nosso vídeo desde nossa estreia, sendo reconhecida por seu profissionalismo e amplo conhecimento dos bastidores políticos de Brasília”, escreve a emissora.

Por enquanto, a apuração interna não encontrou nenhuma evidência, ou mesmo indicação, de perseguição racial, segundo a emissora. “Continuamos em busca de fatos que comprovem a reportagem publicada pelo Alma Preta para, de imediato, tomarmos todas as medidas cabíveis”, disse a CNN.

Créditos: Notícias ao Minuto

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