Rio – Pelo menos duas pessoas morreram e outras cinco ficaram feridas em um desabamento de dois prédios, no início da manhã desta sexta-feira, na Muzema, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Há pelo menos 10 desaparecidos. Ainda não há a identificação dos mortos.

Dos feridos, três são da mesma família: Adilma, Cláudio e Clara Rodrigues foram levados a hospitais da região. Adilma, de 35 anos, e Cláudio, 41, são marido e mulher; ela foi para o Lourenço Jorge e ele e a filha, 8, foram encaminhados ao Hospital Unimed-Rio, ambos na Barra da Tijuca. Ainda não há a identificação do dois últimos feridos.

O antes e o depois do local – BTN / COR e Reprodução / Google

Um morador que ajudou nos resgates da família e dos mortos disse que as duas vítimas fatais seriam pai e filho. “Escutei um barulho forte, por volta das 6h40. Quando cheguei lá, encontrei o pai, mãe e filha (família de Cláudio) e ajudei a resgatá-los. Eu e outras pessoas entramos nos escombros e vimos um pai com o filho abraçados, enterrados de cabeça para baixo, já sem vida”, afirmou, sem querer se identificar.

O garçom Damião Bezerra do Vale está no local desesperado por informações da mulher, Antônia Deiva Sampaio, de 30 anos. Ela, que está soterrada nos escombros, morava com ele no terceiro andar de um dos prédios. “Eu estava dormindo na hora e escapei porque já tinha saído para trabalhar”, afirma, bastante emocionado.

O garçom Damião estava no local à espera de notícias da mulher Antônia – Luiz Portilho / Agência O DIA

SEIS QUARTÉIS

Os prédios que caíram ficam no Condomínio Figueiras do Itanhangá; um teria cinco e outro três andares. A comunidade liga o Rio das Pedras ao Itanhangá, pela Estrada de Jacarepaguá.

O Corpo dos Bombeiros informou que foi acionado às 6h48 e que militares de dois seis quartéis estão trabalhando na região. Dentre eles, agentes do Grupamento de Busca e Salvamento, especializado em técnicas de resgate em estruturas colapsadas.

O prefeito Marcelo Crivella (PRB) chegou ao local por volta das 8h. Equipes da Guarda Municipal, Polícia Militar, Defesa Civil, Light e Cedae também foram acionadas. Ele ainda não falou com a imprensa, mas se manifestou através de um vídeo postado nas redes sociais; confira!

https://www.facebook.com/watch/?v=390897541641699

O governador Wilson Witzel (PSC) se manifestou pelas redes sociais sobre a tragédia. Ele disse estar “acompanhando com preocupação” o episódio. “Nossos bombeiros, como sempre, fazendo seu melhor”, disse, através do Twitter.

IRREGULAR

A prefeitura informou que as construções da região onde houve o desabamento são irregulares, não autorizadas pelos órgãos fiscalizadores e que tiveram as obras interditadas em novembro de 2018. 

“A região é uma Área de Proteção Ambiental (APA) e os prédios ali construídos não respeitam a legislação em vigor. Por se tratar de área dominada por milícia, os técnicos da fiscalização municipal necessitam de apoio da Polícia Militar para realizar operações no local. Foi o que aconteceu em novembro de 2018, quando várias construções irregulares foram interditadas e embargadas pela prefeitura”, disse, através de nota.

Comunidade fica na Zona Oeste – Reprodução / TV Globo

MILÍCIAS

A região é dominada pela milícia. Em setembro do ano passado, policiais militares do Comando de Polícia Ambiental (CPAM) fizeram uma operação no local e prenderam 39 pessoas por envolvimento com grupos paralimitares. A operação foi realizada nas localidades da Muzema, Morro do Banco, Tijuquinha, Vila da Paz, Ilha da Gigóia e Ilha Primeira, todas no Itanhangá, que faz parte da região administrativa da Barra da Tijuca.

Na época, os agentes descobriram a construção de dezenas de prédios de quatro à seis andares em média, onde anúncios ofereciam apartamentos de diversos valores e condições de pagamento, inclusive com projeção de taxas de condomínio. As construções clandestinas verticalizadas não possuíam infraestrutura básica, como ligação regular de esgoto, que seriam lançados em rios e na Lagoa da Barra, e poluiria essas águas.

Região do desabamento fica próximo da encosta da região – Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

Em janeiro deste ano na Operação Os Intocáveis prendeu cinco pessoas por grilagem de terras em Rio das Pedras, Muzema e redondezas, dentre eles o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira e o tenente reformado Maurício Silva da Costa, o Maurição. Os dois apontados como chefes da milicia, ao lado de Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão do Bope, que ainda está foragido. Os outros presos na ocasião foram Manoel de Brito Batista, o Cabelo; Benedito Aurélio Ferreira Carvalho, o Aurélio; e Laerte Silva de Lima.

Os envolvidos foram denunciados pela construção, venda e locação ilegais de imóveis; receptação de carga roubada; posse e porte ilegal de arma; extorsão de moradores e comerciantes, mediante cobrança de taxas referentes a “serviços” prestados; ocultação de bens adquiridos com os proventos das atividades ilícitas, por meio de “laranjas”; falsificação de documentos; pagamento de propina a agentes públicos; agiotagem; utilização de ligações clandestinas de água e energia; e uso da força como meio de intimidação e demonstração de poder.

A região foi uma das mais afetadas pelo temporal do início da semana – Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

TEMPORAL

A região da Muzema foi uma das mais atingidas pelo temporal que caiu na cidade no início da semana. Até hoje, os moradores enfrentam efeitos dos estragos das chuvas com grandes alagamentos.

Apesar de não chover mais, o Rio segue em estágio de crise, pelo quarto dia consecutivo. O nível mais elevado de tensão na cidade representa possibilidade de “deslizamentos e transtornos generalizados em uma ou mais regiões”. 

Por causa das consequências do temporal, o prefeito decretou, nesta quinta, Estado de Calamidade no Rio.

Vista aérea do local – BTN / COR

Fonte: O Dia

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