Após a polêmica do “retiro espiritual” flagrado em um dos destinos mais caros do Caribe, envolvendo o prefeito de Manaus, David Almeida, e o empresário Paulo Montenegro – dono da Grafisa, empresa que já faturou mais de R$ 98 milhões em contratos com a Prefeitura –, novos desdobramentos reforçam que a relação entre a gráfica e o poder público não é de hoje e já esteve envolta em suspeitas e investigações.

Em 2014, a Grafisa foi alvo de questionamentos após a Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE) contratar seus serviços por R$ 3,1 milhões. A empresa estava registrada no nome da irmã de Paulo Montenegro, que, na época, figurava entre os réus da Operação Estocolmo, deflagrada pela Polícia Civil em 2012 para desmantelar uma rede de exploração sexual de menores.

A mesma empresa também apareceu na prestação de contas de campanhas eleitorais, sendo responsável pela produção de materiais gráficos de políticos influentes. À época, Montenegro negou qualquer ligação direta com a empresa, alegando que pertencia apenas a sua irmã.

A polêmica de 2014 se soma agora às novas denúncias envolvendo a gestão municipal. Atualmente, a Grafisa mantém contratos ativos com a Prefeitura de Manaus, totalizando R$ 27 milhões apenas nos últimos anos. Parte desse valor foi destinada à Secretaria Municipal de Educação (Semed), que, na época das contratações, era comandada pela irmã do prefeito, Dulce Almeida.

O histórico da empresa, associado a contratos milionários com entes públicos e sua ligação com figuras políticas de alto escalão, levanta questionamentos sobre a recorrência de seu envolvimento em negócios governamentais. A ausência de transparência sobre sua real administração e os laços próximos entre Montenegro e o prefeito de Manaus tornam o caso ainda mais controverso.

Processo prescreveu

A Operação Estocolmo, que investigou uma rede de exploração sexual no Amazonas e envolveu diversos réus, teve sua punibilidade extinta por prescrição, conforme decisão recente da 1ª Vara Especializada em Crimes contra a Dignidade Sexual e Violência Doméstica a Crianças e Adolescentes. Segundo a magistrada responsável, o Estado não exerceu seu direito de punir dentro do prazo legal, levando à perda desse direito antes mesmo da análise do mérito.

Dentre os investigados na operação, estavam empresários, políticos e outras figuras públicas. Apesar da gravidade das acusações, a prescrição impediu a responsabilização de diversos réus, incluindo nomes que haviam sido citados no caso e que, posteriormente, continuaram a atuar em contratos milionários com o poder público.

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