A jovem Maria Eduarda Meireles Falcão sempre teve vontade de aprender outro idioma. Em 2018, aos 11 anos, quando surgiu a oportunidade de estudar japonês, no entanto, ela tinha a noção, comum entre boa parte dos brasileiros, de que o dialeto nipônico é bem mais complicado que outras línguas, como o inglês ou o espanhol. Para o alívio de Maria Eduarda, esse preconceito foi desfeito logo em seu primeiro ano na Escola Estadual de Tempo Integral (Eeti) Professor Djalma da Cunha Batista, uma das cinco unidades de ensino bilíngue da Secretaria de Estado de Educação e Desporto.

“Não foi uma experiência que queria ter tido, assim, logo de cara. Estava indo para o 6º ano e tinha aquele pensamento de que a língua japonesa era muito difícil. Agora, vejo que foi uma decisão certeira, pois já acho esse idioma mais fácil que o inglês, por exemplo”, afirmou a estudante da 7ª série do Ensino Fundamental, hoje com 13 anos.

Localizada na zona de sul de Manaus, a Eeti atende, atualmente, a 920 alunos do 6º ao 9º ano e possui três matérias que envolvem o japonês: Língua Japonesa, Matemática em Língua Japonesa e Ciências em Língua Japonesa; totalizando 8h semanais do idioma. Quando concluído o Ensino Fundamental, os estudantes da unidade são transferidos para a Eeti Professora Jacimar da Silva Gama, ao lado do Djalma da Cunha Batista, também bilíngue Português-Japonês.

“É bem importante estudar aqui, porque, além de ter contato com essas matérias em japonês, a gente aprende muito sobre a cultura do país. Quando concluir meus estudos, desejo fazer um intercâmbio fora do Brasil, e tenho ciência do quanto esse domínio do japonês vai me abrir portas para conquistar meus objetivos”, destacou Maria Eduarda, que, no tempo livre, costuma ‘mergulhar’ em livros e textos que exploram a cultura japonesa.

Cultura – De acordo com Ana Lívia dos Reis Balbino, 11, estudante da 6º série da Eeti Djalma da Cunha Batista, o ensino bilíngue vai muito além do aprendizado de um segundo idioma. Ela revela que, junto às matérias em japonês, a unidade de ensino procurar se espelhar nas escolas e costumes nipônicos. “Buscamos conhecer e nos inspirar nos hábitos japoneses, então, [nossa escola] é bastante limpa, organizada e disciplinada”, frisou a aluna.

Em seu primeiro ano na Eeti bilíngue, ela revela que 2019 tem sido uma experiência surpreendente. “Não esperava estar em uma escola que ensina japonês, mas foi algo bem mais tranquilo e natural do que imaginava. Quando a gente se esforça para aprender e convive diariamente com uma cultura diferente da nossa, tudo se torna mais fácil”, completou.

Assim com Maria Eduarda, Ana Lívia espera usar o segundo idioma para fazer um intercâmbio. “Estudar em uma unidade não é uma oportunidade tão fácil de se ganhar, por isso busco aproveitar o máximo que posso. Essa experiência pode me abrir portas e ajudar a conseguir um intercâmbio ou um bom emprego”, finalizou a estudante.

Gestora da Eeti Djalma da Cunha Batista, Jéssica Coelho chama atenção para as bolsas de estudo que são oferecidas pelo Japão, mas que, pela falta de candidatos, quase nunca são preenchidas. “Nós temos a segunda maior colônia japonesa do Brasil e, mesmo assim, vem muita gente de fora para trabalhar como tradutor ou intérprete, pois não se encontram muitos profissionais dessa área aqui. A gama que se abre para esses alunos que estudam em uma instituição de ensino bilíngue é imensa”, complementou a gestora.

Consolidação – O ano de 2019 foi um período de fortalecimento para o ensino bilíngue no Estado. Para trabalhar na melhoria e nas possíveis expansões dessa modalidade, a atual gestão da Secretaria de Estado de Educação e Desporto criou a Coordenação de Educação de Tempo Integral. “Antigamente, não havia um setor específico para tratar das Escolas de Tempo Integral do Amazonas. Elas ficavam ‘espalhadas’ sob a gerência de outras coordenações”, contou Antônia de Godoy, coordenadora geral das Escolas em Tempo Integral da secretaria.

Ela ressalta ainda que a criação dessa coordenadoria está trazendo uniformidade à Educação de Tempo Integral no Estado – seja ela bilíngue ou tradicional.

“Como todo o trabalho relacionado a essas unidades era feito por gerências distintas, não havia uma uniformidade. Nosso setor veio para suprir essa questão. Somos uma coordenadoria voltada à elaboração das propostas pedagógicas das Escolas de Tempo Integral, logo, temos muito o que fazer. Já temos pronta, inclusive, a proposta do Novo Ensino Médio para essas unidades de ensino”, reforçou Antônia de Godoy.

Parcerias – Ao longo deste ano, a Secretaria de Estado de Educação e Desporto deu continuidade às parcerias firmadas por meio da assinatura de termos de Cooperação Técnica com consulados e embaixadas estrangeiras. Estes documentos legais formalizam o trabalho em conjunto entre o Governo do Amazonas e demais instituições para que haja a continuidade das atividades pedagógicas desenvolvidas pelas unidades de ensino bilíngue do Estado.

No mês de setembro, por exemplo, o secretário de Educação e Desporto, Vicente Nogueira, assinou um Termo de Cooperação Técnica Educacional com a Fundação Japão, referente às atividades desenvolvidas na Eeti Djalma da Cunha Batista. Na ocasião, o titular da pasta elogiou a proposta pedagógica da unidade de ensino. “O nosso reconhecimento não é apenas pelo aprendizado da língua [japonesa], mas também pelos valores morais, éticos e organizacionais da cultura japonesa”, pontuou Vicente Nogueira.

Dois meses depois, em novembro, foi a vez da Embaixada da França firmar um termo semelhante com o Governo do Amazonas, trazendo ainda mais benefícios ao ensino bilíngue Português-Francês executado pela Eeti José Carlos Mestrinho. “O desafio é para que essa escola [José Carlos Mestrinho] esteja entre as instituições bilíngues mais bem conceituadas do mundo”, disse o embaixador da França no Brasil, Michel Miraillet, durante a cerimônia de assinatura do Termo de Cooperação Técnica.

Para os próximos anos, a Secretaria de Educação vislumbra parcerias com instituições da Colômbia e do Canadá, e com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Números – O Amazonas conta com cinco unidades de ensino, que atendem 3,3 mil alunos. São elas: Eeti Professor Djalma da Cunha Batista (Português-Japonês), Eeti Professora Jacimar da Silva Gama (Português-Japonês), Eeti Áurea Pinheiro Braga (Português-Espanhol), Eeti Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo (Português-Inglês) e Eeti José Carlos Mestrinho (Português-Francês).

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