Brasil – Na noite desta quinta-feira (4), o “Linha Direta“, um dos programa mais populares entre os anos 90 e início de 2000, retornará à grade de programação da TV Globo com apresentação de Pedro Bial. Ao ser noticiado na mídia, a volta da atração repercutiu negativamente nas redes sociais e pode dar dor de cabeça para a emissora.

O “Linha Direta” marcou época ao exibir crimes aterrorizantes e de grande repercussão. Além disso, também mostrava entrevistas e simulações de história impressionantes.

A Globo pode ter problemas com o programa?

Após o grande número de massacres nas escolas nos últimos meses, alguns veículos de comunicação tomaram a decisão de mudar suas políticas e, a partir de agora, não irão mais divulgar a foto e nem o nome dos autores dos ataques.

Durante a abertura do ‘Jornal Nacional’, William Bonner anunciou uma mudança editorial no grupo Globo – a alteração vale para todos os veículos da emissora.

“Os veículos do Grupo Globo tinham há anos como política publicar apenas uma única vez o nome e a foto de autores de massacres como o ocorrido em Blumenau. O objetivo sempre foi evitar dar fama aos assassinos para não inspirar autores de novos massacres. Essa política muda hoje e será ainda mais restritiva: o nome e a imagem de autores de ataques jamais serão publicados, assim como vídeos das ações”, disse o âncora do ‘JN’.

“A decisão segue as recomendações mais recentes de prestigiados especialistas no tema, para quem dar visibilidade a agressores pode servir como um estímulo a novos ataques. Estudos mostram que os autores buscam exatamente esta ‘notoriedade’, por pequena que seja. E não noticiamos ataques frustrados subsequentes, também para conter o chamado ‘efeito contágio’”, completou Bonner.

A notícia do retorno do “Linha Direta” não ter agradou Luisa Mell. A ativista da causa animal usou suas redes sociais para detonar a emissora pela volta do programa, que, segundo ela, pode influenciar ainda mais no aumento de crimes.

Além da famosa, alguns internautas também concordaram com ela de ser uma péssima escolha a volta da atração na tela da TV Globo.

A IstoÉ Gente procurou Higor Gonçalves, jornalista especializado em gestão estratégica de imagem, que fez uma análise sobre a volta do programa. Confira!

“A primeira versão do ‘Linha Direta’ foi exibida entre março e julho de 1990. A segunda, que notabilizou-se, ocorreu entre 1999 e 2007. Inspirado em similares norte-americanos, o programa foi criado a partir da ideia de expor crimes reais cujos autores, em muitos casos há décadas, estavam foragidos da Justiça. Por meio de denúncias anônimas, colaborou para a prisão de centenas de criminosos pelo Brasil. Ganhou muita repercussão, mas também gerou controvérsias na época: era defendido por alguns pela sua utilidade pública, porém criticado por outros em virtude de uma suposta glamourização do crime. Polêmicas à parte, o programa tornou-se um fenômeno de audiência, mas foi retirado do ar em 2007 sem uma justificativa plausível. O retorno neste ano tem a ver com o sucesso, nos últimos tempos, dos podcasts de ‘true crime’ no País. O ‘Linha Direta’, inclusive, vai investir neste formato para atender a uma demanda de mercado”, começou o especialista.

“Segundo os realizadores, o programa volta com uma roupagem ‘mais moderna e sintonizada aos novos tempos’. Ocorre que, antes mesmo da reestreia, existe um impasse: como será a produção do novo ‘Linha Direta’ a partir das recentes mudanças editoriais do Grupo Globo? No dia 6 de abril deste ano, após a tragédia ocorrida em uma creche de Blumenau, Santa Catarina, a emissora anunciou que tornaria mais restritiva a sua política editorial, passando a não veicular o nome e a imagem de autores de massacres. O intuito é não conferir visibilidade aos culpados, e, involuntariamente, desencadear um ‘efeito contágio’. No entanto, a alma do ‘Linha Direta’ sempre foi a exposição do criminoso foragido, estimulando a sua denúncia pela população e a posterior captura por parte das autoridades. Se a Globo modificar o conceito do programa para adequá-lo à sua nova política editorial, poderá descaracterizá-lo. Por outro lado, se mantiver a essência do ‘Linha Direta’, em tese, estará ferindo os próprios princípios.”

“É uma situação complexa. Mas, do ponto de vista da imagem, ou seja, da percepção do público, a emissora pode, a cada episódio, enfatizar que a informação é um dos seus pilares e que o compromisso da nova versão do programa é viabilizar a justiça. Salientando que o objetivo não é ‘notabilizar criminosos’, mas colaborar para que as autoridades capturem e punam os que já foram julgados e estão foragidos, a Globo constrói argumentos sólidos para desanuviar as críticas. Um aspecto, porém, é muito importante: o discurso fará sentido apenas se o programa evitar a todo custo a percepção de glamourização do crime. A ênfase precisa ser dada somente ao processo de investigação de cada caso apresentado”, finaliza Higor Gonçalves.

Fonte: Isto É

Artigo anteriorTSE torna Luciano Hang, o véio da Havan, inelegível até 2028 e cassa prefeito e vice de Brusque (SC)
Próximo artigoDeputada Federal do PSOL quer obrigar Bolsonaro a vacinar a filha Laura