Em entrevista ao jornal A Crítica na edição deste sábado (2), o secretário de saúde Marcellus Campêlo detalhou que o governo do Estado tem trabalhado arduamente para evitar que não falte atendimento e leitos com o aumento de número de casos do novo coronavírus.

O secretário de estado defendeu o isolamento social e que a população tem um papel muito importante para conter o avanço do vírus, e recomendou que os amazonenses fiquem em suas casas nesse período onde o Estado vive uma possível segunda onda de infecções.

Veja a entrevista na íntegra:

Como está o cenário epidemiológico Amazonas hoje?

Nós estamos passando por um grave momento novamente pela Covid-19. Em dezembro, nós batemos o recorde desde julho. Esse é o terceiro maior número de internações da rede. Só ontem (31 de dezembro), foram 129 novas internações. Isso mostra que a população está sendo contaminada em função das aglomerações dos últimos 30 dias pelo menos, com o período eleitoral, o início das confraternizações no mês de dezembro. Estamos sofrendo uma grande pressão agora por conta disso.

E a previsão da SES-AM é que sofreremos ainda mais daqui a 15 dias com um grande número de internações por conta dos festejos de Natal e Ano Novo. Então, neste momento, a rede se encontra muito pressionada. Nós estamos realizando um trabalho que chamamos de Plano de Contingência, pelo qual estamos na fase 4, estamos mudando o perfil das unidades de saúde para que elas possam receber pacientes da Covid-19, mudando a sua característica. O Hospital Platão Araújo, que é porta de entrada geral, foi reconfigurado para atender mais Covid que outras patologias. A mesma coisa está acontecendo com o Hospital 28 de agosto.

Em uma análise prévia, por que se deu esse aumento significativo de internações, casos confirmados e óbitos nesse fim de 2020?

A partir de junho os números começaram a cair. Foi a época que fizemos um plano de retomada das atividades do Hospital Delphina Aziz para outras patologias. No final do mês de agosto para setembro, após o feriado da Pátria, nós já percebemos um início de crescimento de casos e necessidade de internações, principalmente das classes A e B, que são as classes que estão mais contaminadas no momento. Quando saíram do home office, essas pessoas saíram sem a proteção necessária. As diversas aglomerações em praias, flutuantes, casas de show e bares contribuíram para o crescimento. As convenções partidárias e campanhas eleitorais também causaram muitas aglomerações e casos confirmados. Nesse período o número de internações só aumentou.

Em setembro, quando percebemos isso, nós suspendemos a utilização do Delphina para outras patologias, voltamos a utilizar só para Covid, criamos um plano de contingenciamento, estabelecendo cinco fases de avanço no caso de necessidade de ampliação da rede e fomos aplicando, ampliando leitos. Estamos na quarta fase. Só o Delphina saiu de 70 leitos para 150 leitos de UTI. Triplicamos a capacidade. Reorganizamos a rede, principalmente trabalhando o fluxo interno de leitos.

Investimos também em tecnologia da informação para podermos ter em tempo real a taxa de ocupação de leitos da rede. Isso não existia.  Fizemos outras ações de gestão, de integração e de estruturação da secretaria para este novo momento.

Em 2021, Manaus pode entrar em colapso? O Estado está preparado para enfrentar isso?

Nós estabelecemos o plano de ação, que prevê que na fase 4 deveríamos ter medidas restritivas, tanto que no dia 23 o governador anunciou. Mas houve reação da sociedade. O governador, de forma natural, sentou com os representantes dos setores, acordou algumas flexibilizações (do decreto restritivo).

Com o número de internações que estamos, vai chegar um momento que o Estado não vai conseguir mais dar conta porque, inclusive, nós estamos concorrendo com outras patologias. Além do Covid que está crescendo muito as internações, nós temos outras causas externas, como acidente de trânsito. Isso lota leitos e concorre com Covid.

Por isso as atividades têm que estar restritas. Assim, você diminui o número de internações por outras causas. Para evitar o colapso, o governo está abrindo mais leitos onde nós podemos. Abriremos 56 no Delphina Aziz nos próximos dias em uma área no 6º andar do prédio, onde é um depósito.

Abrimos leitos na Fundação de Medicina Tropical (FMT). São 30 leitos de UTI no total e mais 26 leitos clínicos, no Hospital 28 de agosto colocamos 40 leitos de UTI mais 113 leitos clínicos, além de leitos disponíveis no Hospital Platão Araújo, Hospital Universitário Getúlio Vargas e Hospital Beneficente Portuguesa.

Mas isso tem um limite. Se a população continuar aglomerando, sendo infectada e adoecendo, vai chegar uma hora em que o Estado não terá condições de atender a todos.

Como está o relacionamento da SES-AM com a Seduc-AM para a volta das aulas presenciais? Elas irão voltar em fevereiro?

Até o momento, o retorno das aulas não está comprometido, ele segue o calendário normalmente. Temos uma experiência muito positiva da educação, fomos o primeiro estado a reabrir as aulas no setor público, nós verificamos pouquíssimos casos de infecção em alunos. Isso foi um ganho social para todo o estado do Amazonas.

Qual é o atual cenário da chegada da vacina contra a Covid-19 no Amazonas?

O governo federal já sinalizou que no mês de janeiro pode vir um lote para o Estado. Estamos muito esperançosos com a vacina, apesar de sabermos que o lote é muito pequeno, mas pelo menos ele vai conseguir alcançar a faixa etária da população que mais está sofrendo com o coronavírus, que é a faixa etária de 60 anos, pois 74% dos que morrem pela Covid-19 são pessoas acima de 60 anos. Estes são os primeiros que devem receber a vacina.

A ser enviada pela União ao Amazonas e a partir daí Estado e Município vão assumir essa distribuição. Já há algum planejamento de como funcionará essa distribuição de vacinas?

Nós temos um pré-planejamento estabelecido em conjunto da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) com a Secretaria de Saúde do Amazonas, mas antes o Estado precisa saber qual é a vacina que chegará e quais as condições para manter ela. Ela pode vir em uma ampola para a aplicação ou ela pode vir diretamente em uma seringa, além disso precisamos da informação da temperatura de armazenamento, principalmente nós que estamos na região Norte. Esses detalhes ainda não foram repassados pelo governo federal. O desafio da vacinação no Estado do Amazonas será muito maior que de outros estados. É de obrigação do Estado que a vacina fique disponível em todo o estado do Amazonas.

Caso as vacinas do governo federal não forem suficientes, o Estado do Amazonas terá como arcar com o custo dessas de mais imunizantes?

Sim. Vamos receber uma quantidade igualitária do governo federal, mas, se ela não for suficiente, o Estado tem uma previsão orçamentária de forma preventiva caso isso aconteça. Mas nós achamos muito difícil uma vacina disponível para os Estados comprarem. Todas as indústrias dão preferência de vendas para o Governo Federal. Mas caso isso aconteça o Amazonas está preparado.

Por conta do aumento de casos em comparação a outros estados, o Amazonas está como prioridade entre os que vão receber a vacina?

Até o momento, ainda não sabemos quais são os estados que receberão primeiro os lotes de vacina. O aumento de casos está acontecendo no Brasil todo. Oficialmente não há nenhum indicativo que o Amazonas está como prioridade do governo federal.

Com a nova gestão na prefeitura, a SES-AM pretende ter uma parceria maior com o Município a partir de 2021?

Sim. Desde quando houve a eleição do prefeito David Almeida e quando ele instituiu a Comissão de Transição, nós nos aproximamos da comissão de Saúde. Fizemos uma reunião de duas horas para tratar de diversos temas que estão pendentes na saúde do Estado. Com a confirmação da secretária Shádia Fraxe da Semsa, nós já fizemos reuniões de projetos que vamos fazer em parceria, como, por exemplo, nós queremos apoiar a prefeitura na ampliação das UBS para o primeiro atendimento da Covid. Queremos ajudar a reativar as UBS móveis, para isso eles precisam de apoio do Governo do Estado. Um dos projetos que queremos com essa parceria é o acompanhamento do paciente com Covid monitorando-o nas primeiras horas em que ele foi testado positivo.

Qual o balanço de 2020 para a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM)?

Para mim foi um ano de muitos aprendizados. Eu era secretário executivo de Infraestrutura da Seinfra. Sou engenheiro civil e fui chamado para auxiliar a secretaria de Saúde e logo me tornei secretário. São 21 mil servidores da saúde no Amazonas. O problema da SES-AM não era a falta de recursos financeiros e nem recursos humanos, era apenas falta de gestão, do ponto de vista de organização, planejamento, direção e controle. Na pandemia, a secretaria foi reestruturada, outros setores da saúde tiveram que ser abertos para tratar de assuntos específicos.

Como o senhor avalia os serviços da SES-AM para o ano de 2021?

Será um ano de superação. Nossa primeira meta para 2021 é fazer a vacinação chegar em todo o Estado, essa é a primeira missão. Temos planejamentos como o Programa Saúde Amazonas que é programa de 9 grandes ações estratégicas que envolvem a reorganização da rede, a diminuição das filas, o saúde nas casas que é a interiorização da saúde ganhando 5 polos no interior para evitar que a população tenha que se deslocar para Manaus para poder receber atendimento, uma ouvidoria que receberá denúncias, auditorias, demandas para ter um canal aberto com a sociedade. São mais de 250 projetos que estão em andamento para 2021, um investimento mais de 2 bilhões de reais para os próximos dois anos.

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