Brasília – Embora o presidente Jair Bolsonaro ainda não tenha se manifestado publicamente sobre as mensagens trocadas com procuradores da Lava-Jato pelo ex-juiz federal Sergio Moro , os seus três filhos políticos já saíram em defesa do atual ministro da Justiça e da Segurança Pública. Eles minimizaram as revelações do site The Intercept Brasil, e atacaram a forma como as informações foram obtidas, segundo eles, por meio de uma invasão criminosa.

Fundador do site e um dos autores das reportagens publicadas no fim da tarde do domingo, o jornalista americano Glenn Greenwald também virou alvo dos Bolsonaro por ser casado com o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ) e ser crítico do presidente.

Mensagens atribuídas a Moro e ao procurador Deltan Dallagnol, do Ministério Público Federal (MPF), sugerem que os dois combinaram atuações enquanto trabalharam na operação Lava-Jato. A força-tarefa de Curitiba divulgou nota para rebater a reportagem, dizendo que “seus membros foram vítimas de ação criminosa de um hacker que praticou os mais graves ataques à atividade do Ministério Público, à vida privada e à segurança de seus integrantes”.

A reportagem ainda cita mensagens entre os procuradores nas quais eles teriam discutido no aplicativo Telegram uma maneira de barrar a entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizada por um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Interceptações

Em nota, o ministro da Justiça lamentou “a falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores. Assim como a postura do site que não entrou em contato antes da publicação, contrariando regra básica do jornalismo.”

O primeiro dos três filhos a quebrar o silêncio sobre o caso foi o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). Quase três horas e meia após a publicação das reportagens, ele compartilhou um texto do site “República de Curitiba”, que tem a foto de Moro como imagem principal em suas redes sociais. O título do texto isenta o ministro e o procurador: “Supostas mensagens entre Moro e Dallagnol reforçam credibilidade da Lava Jato na luta por um Brasil melhor”.

Em seguida, Carlos lançou um questionamento sobre o suposto objetivo dos vazamentos: “É impressão minha, ou só no Brasil, uma imprensa utiliza uma invasão ilegal de algo privado, ignorando a invalidade judicial e ilegalidade, mas não se importa em divulgar, com o único intuito de queimar o governo Bolsonaro e favorecer o sistema? Acho que já vi isso antes!”.

Em outro retuíte, ele referendou uma mensagem que comparou a facilidade de interceptar o celular de Moro à impossibilidade de “alguém interceptar os celulares dos advogados do Adélio (Bispo de Oliveira)”, o autor da facada contra o então candidato Bolsonaro em setembro do ano passado.

Carlos também republicou uma mensagem do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que disse estar acontecendo “um ataque orquestrado contra a operação Lava Jato”. “O objetivo claro é tumultuar processos e investigações, barrando o combate à corrupção no Brasil. A utilização organizada e criminosa de táticas hackers é mais uma etapa dessa guerra”, escreveu o parlamentar.

Ao compartilhar um texto que credita Greenwald como “marido de deputado do PSOL”, Carlos comentou que “tinha que ter o piçóu no meio ou algo assim… a menina do PT, ou algo assim!”. Ele também se valeu de um tuíte publicado pelo fundador do Intercept em 30 de julho do ano passado: “os jornalistas ainda não têm uma estratégia eficaz para bater Bolsonaro, e a entrevista #RodaViva acabou de provar isso. É preciso desenvolver uma rapidamente”. “Entenderam agora o que está acontecendo? Entenderam?”, diz o tuíte republicado pelo vereador.

Flávio, o mais discreto

O deputado federal Eduardo Bolsonaro só passou a comentar o caso na manhã desta segunda, respondendo a mensagem de um apoiador da Lava-Jato que escreveu no Twitter que, “no Brasil, a vítima do crime é quem tem que se explicar!”. “Depende do espectro político da vítima, se é de direita ou de esquerda…”, afirmou Eduardo, usando a hashtag #EuApoioaLavaJato — a mais citada na rede social neste momento.

Ele também republicou três mensagens com críticas às reportagens, entre elas uma do assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Filipe Martins, que relatou um pedido de entrevista de Greenwald a ele. “Respondi que falaria com ele se ele topasse substituir a entrevista por um debate. Ele não topou, é claro, mas o episódio revela um dado relevante sobre esse sujeito: ele é um agente político que finge ser jornalista”, afirmou Martins.

Em outra, o vazamento é relacionado ao PT, classificado como a maior organização criminosa do mundo e capaz de “invadir contas bancárias, de qualquer cidadão, fraudar urnas eletrônico, assaltar, sequestrar pessoal e autoridades, fazer de refém políticoas e ministros do STF”.

Eduardo também afirmou aos seus mais de 1,5 milhão de seguidores que Glenn Greenwald é “o companheiro” do deputado David Miranda, “que entrou na vaga deixada por Jean Wyllys”. Ainda segundo o deputado, o jornalista “foi o porta-voz do Snowden para vazar tudo que ele sabia sobre dados confidenciais dos EUA no caso conhecido como Wiki Leaks. Além disso, Glenn vendeu no exterior a tese que o impeachment da Dilma (Rousseff) foi golpe”.

Na verdade, o americano trabalhava para o jornal inglês The Guardian quando revelou, em 2013, documentos sobre programas de espionagem global da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos. WikiLeaks é uma organização fundada em 2006 pelo australiano Julian Assange.

O mais discreto dos três, o senador Flávio Bolsonaro, por sua vez, se limitou a compartilhar uma notícia com a nota oficial de Moro “sobre vazamento criminoso de conversas entre procuradores”. O texto foi divulgado antes das 22h do domingo, mas só foi republicado pelo parlamentar às 8h38 desta segunda.

Fonte: O Globo

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