BRASÍLIA – O empresário Luciano Hang, dono da rede Havan, é ouvido nesta quarta-feira (29), pela CPI da Pandemia. Ele foi convocado após a comissão identificar ligações entre ele e a operadora Prevent Senior.

O “velho da Havan” é abertamente apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e deve ser confrontado pelos senadores por seu apoio a medidas ineficazes contra a Covid-19, como o chamado “tratamento precoce”, bem como pelo financiamento e divulgação de informações falsas sobre a doença.

A principal motivação para a ida de Hang à CPI envolve a morte da mãe do empresário e uma possível omissão coordenada dos reais motivos de sua morte. Em fevereiro desse ano, Regina Hang ficou internada no hospital Santa Maggiore, do grupo Prevent Senior, e faleceu por Covid-19 mas a causa a morte não foi registrada como decorrência do coronavírus, o que levantou suspeitas sobre a manipulação do óbito.

Os senadores tiveram acesso a um dossiê que informa que Regina foi submetida ao tratamento com o “kit Covid” – uma união de medicamentos sem eficácia comprovada para a doença –, após o óbito, Luciano afirmou que se “arrependia” de não ter dado à mãe os remédios. Consta ainda no dossiê que Regina foi submetida a ozonioterapia por via retal. Em nota de agosto de 2020, o Conselho Federal de Medicina informa que a prática não é válida para tratar Covid ou qualquer outra doença.

Hang é acusado de pertencer ao chamado “gabinete paralelo”, um grupo de apoiadores de Bolsonaro suspeito de aconselhar o presidente em relação à pandemia em contraponto às orientações científicas da OMS e do próprio Ministério da Saúde. Ele também foi um dos alvos do inquérito das fake news que tramita no Supremo Tribunal Federal. O STF é constantemente atacado por Luciano nas redes sociais e demais declarações.

DEPOIMENTO

Ainda no início de sua oitiva, Hang foi inquirido sobre se prestaria o juramento de dizer apenas a verdade. Ele não o fez, pois, como está na condição de investigado, possui a prerrogativa de não precisar responder questões que o incriminem.

Em sua fala inicial, o empresário afirmou que não integrar o “gabinete paralelo” e não ter financiado fake news. Disse que é “ativista político” desde 2018, ano em que Bolsonaro foi eleito.

“Não conheço, não faço e nunca fiz parte de nenhum gabinete paralelo, não financiei esquema de fake news, e não sou negacionista”, disse Hang. “Eu lutava para que a indústria e comércio ficassem abertos mantendo empregos e sustentos dos brasileiros”, conclui o dono da Havan.

Ele ainda afirmou que o nome de sua mãe foi utilizado de forma “vil” e “política”.

“É duro para mim ver a morte da minha mãe sendo usada politicamente, de forma baixa e desrespeitosa. Não aceito desrespeito a morte da minha mãe. Tenho consciência de que como filho sempre fiz o melhor por ela”, declarou. Nesse momento, Hang foi contestado pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM). “O senhor é que trouxe o debate falando, suas palavras são claras: ‘se minha mãe tivesse usado o tratamento precoce, talvez ela teria sido salva’. Não fomos nós que trouxemos sua genitora para esse debate”, disse.

O depoimento também foi marcado por embates entre os senadores presentes na sessão. O relator senador Renan Calheiros (MDB-AL), foi interrompido em suas considerações iniciais pelo senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente.

Nos questionamentos objetivos, onde o depoente deve responder sim ou não, o empresário buscou dar respostas maiores do que as solicitadas, o que incomodou o Calheiros.

Em meio às discussões sobre como deveriam ser feitas as perguntas ao empresário e como deveriam ser as respostas, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) se desentendeu com um dos advogados de Hang. O advogado estava mostrando uma das plaquinhas com mensagens que Hang tinha levado ao depoimento. Carvalho se irritou, elevou o tom de voz e solicitou que Omar expulsasse o advogado da sessão, enquanto falava o “velho da Havan” balançava as mãos fazendo um sinal de “menos”, direto da tribuna. “Olha, está me provocando”, afirmou Carvalho. Ao que foi apoiado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), “Isso é desacato, presidente”, afirmou a parlamentar.

Aziz pediu para Hang entregar para as placas para a segurança do Senado. Nessa hora, Hang levantou uma das placas dizendo “não me deixam falar”. A confusão ficou ainda maior e Aziz determinou a saída de um dos advogados e determinou a suspensão da sessão.

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