Manaus – Fake news e a pós-verdade’ é o tema debatido no I Colóquio de Jornalismo, realizado nesta segunda-feira, 9, no auditório Rio Negro do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS). O objetivo consiste em discutir como combater a propagação de informações inverídicas em mídias comunicacionais e o impacto social que a nova realidade implica.

Conforme afirma a jornalista e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Pollyana Ferrari, a pós-verdade ganha verbete nos dicionários Oxford em 2016, após a eleição de Donald Trump, atual presidente americano, cuja candidatura e ganho de poder foram sustentados através da manipulação de informações falsas. Foi constatada, então, a força e abrangência dos apelos emocionais interpostos em notícias falsas, para torná-las mais eficazes no que diz respeito à mobilização da opinião pública do que a verdade. “Esta ação provoca riscos enormes que ameaçam as sociedades democráticas”, avaliou a professora, ao justificar a discussão mundial sobre fake news.

A produção de conteúdo manipulativo e irreal para corresponder a finalidades de interesse econômico e político previamente estabelecidas não é algo novo, o termo “foi revigorado a partir da explosão das informações geradas ou compartilhadas nas redes sociais, pois houve um barateamento na produção e disseminação de conteúdos, saindo o polo emissor apenas das mãos dos jornalistas e ganhando escala entre os cidadãos comuns”, segundo esclareceu a professora Pollyana.

Com a explosão das redes sociais em 2004, a política foi mergulhada na chamada pós-verdade e, atualmente, existem escritórios dedicados a trabalhar exclusivamente com fake news em campanhas eleitorais e em outras situações. Uma ferramenta utilizada em larga escala por essas ditas organizações é a aplicação de bots, que são softwares programados para reproduzir ações humanas padronizadas, um mecanismo de inteligência artificial que funciona da mesma forma em divulgações de notícias verdadeiras ou falsas.

Em pesquisa divulgada recentemente, a revista Science revelou que as fake news possuem 70% de vantagem em relação às chances de propagação das notícias verídicas, que se difundem significativamente menos longe pela ausência do apelo sentimental geralmente contido nas falsas. O estudo concluiu ainda que a verdade demorou tempo aproximadamente seis vezes maior do que a falsidade para atingir um total de 1500 pessoas, e 20 vezes maior para atingir uma cascata (compartilhamento em diferentes mídias sociais) de 10 níveis de aprofundamento, enquanto a falsidade já alcança a profundidade 19.  

Solução

Para driblar a situação, o ideal é adotar um modelo padronizado de checagem minuciosa de todas as informações recebidas antes de compartilhá-las, tal como sugeriu a Rede Internacional de Verificação de Fatos (IFCN), segundo a qual em menos de 72h é impossível checar fontes e dados de maneira adequada. Em 2017, as agências de checagem ganharam mais força ao redor do mundo, dada a urgência do que se transformou em problema social.

O representante do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas (SJPAM), Wilson Reis, destacou a relevância da releitura do Código de ética da profissão, em especial do trecho que estabelece o compromisso social dos jornalistas como sendo a verdade, enquanto papel crucial para o exercício da cidadania. “Jornalistas precisam decidir entre o enfrentamento e a submissão em muitas ocasiões, pois as relações de mercado acabam por determinar alguns posicionamentos, devido às imposições do sistema capitalista”, observou.

Pollyana Ferrari defendeu ainda a Educação como pilar para a resolução do problema, a fim de contribuir para um mundo onde o senso crítico prevaleça. “A sociedade precisa compreender, desde a infância, que nem todas as informações veiculadas são verdadeiras e essa Educação deve ser estendida aos estudantes e profissionais do Jornalismo, ao adquirir a consciência de que a Comunicação deve ser associada a áreas tecnológicas”, declarou, referindo-se ao controle de uso dos bots para fins de checagem.

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