
A recente decisão do ex-presidente Donald Trump de elevar tarifas sobre produtos importados nos Estados Unidos acendeu um sinal de alerta no setor cafeeiro brasileiro. O país é o maior exportador mundial da bebida, e os EUA são o principal destino do café nacional. Apenas em 2024, os americanos compraram mais de 8,1 milhões de sacas — o equivalente a 16,1% das exportações brasileiras, com alta de 34% em relação a 2023.
Desde o dia 5 de abril, o café brasileiro passou a ser taxado em 10% para entrar no território americano. Embora a alíquota seja inferior à aplicada a países como Indonésia (32%) e Vietnã (36%), e igual à da Colômbia, o impacto preocupa o setor.
Celírio Inácio, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), avalia que o percentual mais baixo não garante uma vantagem real. “É preciso analisar com cuidado. Essa taxação pode afetar a dinâmica global da produção e do consumo de café. Se países como Vietnã e Indonésia desestimularem sua produção, o abastecimento mundial pode ser comprometido”, alertou.
Segundo ele, a medida não deve surtir o efeito esperado por Trump, de incentivar a produção interna nos EUA. “O mercado americano depende historicamente do café importado. A cadeia de consumo deles está estruturada sobre isso”, destacou.
Inácio também lembrou que, apesar da alta nos custos de produção nos últimos 12 meses, os preços ainda não foram integralmente repassados ao consumidor. “Grande parte dos impactos foi contida por contratos de proteção financeira. Mas, com essa nova demanda dos americanos para suprir estoques e a imposição da tarifa, os efeitos devem começar a chegar às prateleiras em breve.”
O diretor da Abic defende uma abordagem diplomática: “É hora de acompanhar de perto como essa medida será implementada e como os países afetados vão se posicionar. Não se trata apenas do Brasil, mas de toda a sustentabilidade do ecossistema cafeeiro global.”