Brasil – Maria Leonor, de 7 anos, que vive em Miranda do Douro, começou a achar divertido “falar brasileiro” depois de conhecer o youtuber Luccas Neto na internet. Jonathan, de 6 anos, vive no Porto e passou a cumprimentar as amiguinhas com um “oi, menina”, depois que descobriu vídeos de brasileiros no YouTube.

As duas crianças são parte de um fenômeno em Portugal. O sotaque brasileiro tem preocupado alguns pais depois do aumento do intercâmbio entre os dois países, em virtude de ondas migratórias e da pandemia. O Diário de Notícias chegou a publicar uma reportagem alertando para esse temor. “Há crianças que só falam brasileiro”, diz o texto, que provocou um misto de críticas e brincadeiras dos dois lados do Atlântico.

O motivo apontado pela publicação seria a influência de youtubers do Brasil, os mais assistidos pelos “miúdos” portugueses, que estariam mudando a forma de falar das crianças. A mãe de Maria, Glória Fidalgo, de 44 anos, diz que é importante que os jovens tenham outras referências, mas acha excessivo a quantidade de conteúdo de youtubers brasileiros. “Há vídeos que eu denuncio, porque incitam a violência entre amigos”, explica.

Verônica, de 32 anos, notou algumas mudanças na forma de falar do filho, Jonathan, que passou a usar o celular com mais frequência para assistir vídeos – vários deles produzidos por brasileiros. “Quando ele encontra amigos brasileiros, começa a falar ‘brasileiro’. Lembro de um menino perguntar se ele era brasileiro.”

A influência cultural brasileira em Portugal não é nova. A MPB, as novelas e o futebol moldaram o gosto lusitano. O pesquisador do núcleo de inteligência da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Leonardo Paz explica que o Brasil é como um “primo maior” para Portugal, assim como os EUA são da Inglaterra. Além disso, o intercâmbio facilita a transferência de conteúdo cultural.

Coordenador do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de Coimbra, o português Osvaldo Silvestre vê uma situação “híbrida”, com ganhos e perdas na força da cultura brasileira em Portugal. Ele cita o crescimento do funk e do pop, e uma redução no interesse por novelas e pela MPB. Mas Silvestre não acredita que a cultura portuguesa esteja ameaçada. “Portugal tem 900 anos de idade. Se a identidade portuguesa fosse assim tão frágil, por causa de fenômenos como este, seria muito preocupante”, afirma.

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