Brasil – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dedicou grande parte de seu discurso na Conferência Nacional de Assistência Social, em Brasília, a criticar a fragilidade das medidas de proteção às mulheres vítimas de violência. No evento, ele apontou que muitas vítimas continuam vulneráveis mesmo quando seus agressores estão sob monitoramento eletrônico. Ao tratar da escalada da violência de gênero, Lula destacou que o medo ainda impede que milhares de mulheres formalizem denúncias.

Medo da vingança e violência crescente

Segundo o presidente, a insegurança permanece como obstáculo decisivo para que vítimas busquem ajuda. “Não é normal o grau de violência contra mulher, o assédio, a provocação. Não é normal. Não pode acontecer. E muitas vezes as mulheres não fazem denúncia porque elas têm medo, têm medo que a vingança seja maior”, afirmou.

Lula também relacionou a insuficiência das medidas protetivas ao cotidiano das vítimas, dizendo que a tornozeleira não impede agressões quando a mulher permanece exposta dentro de casa.

Crítica à tornozeleira e referência a Bolsonaro

Ao abordar o monitoramento eletrônico, Lula citou o episódio recente envolvendo Jair Bolsonaro (PL), acusado de violar a tornozeleira no fim de novembro. “Vai colocar tornozeleira, o cara não pode se aproximar de casa, mas quem está dentro de casa sozinha é a mulher. E o safado aparece. E quando aparece, aparece mais nervoso. Olha, se até um presidente da República que tentou dar um golpe neste país tentou tirar a tornozeleira dele, imagina esses”, declarou.

Chamada à união dos Poderes e à responsabilização dos homens

Lula defendeu que o enfrentamento à violência precisa ser assumido como prioridade nacional e que os homens devem participar ativamente dessa mudança cultural. “Eu vou convocar uma reunião com os poderes da República. É importante envolver o Congresso Nacional, Senado e Câmara, Suprema Corte, Superior Tribunal de Justiça, tribunais dos estados, sindicalistas, evangélicos, é preciso todo mundo”, afirmou.

O presidente reforçou que é necessário um grande esforço coletivo: “A gente precisa fazer um mutirão nesse país, um mutirão educacional para que o homem, quando ele tiver vontade de bater na mulher, ele pegue seu sapato e bata na sua cabeça”.

Educação, denúncia e punição como pilares

Lula disse que irá assumir pessoalmente essa responsabilidade e ressaltou que mudanças de comportamento começam no ambiente familiar e escolar. “A verdade é que nós homens temos que mudar de comportamento. Isso a gente aprende na escola, no berço. Temos filhos homens, temos que reeducá-los. Na escola, professores têm que reeducar crianças. Não podemos deixar que isso se transforme numa coisa normal. Temos que despertar o direito de indignação. Temos que ficar indignados com a violência contra as mulheres”, declarou.

Embora reconheça que o período de fim de ano dificulta a convocação imediata dos Poderes, o presidente, porém, reiterou seu compromisso de avançar na agenda de combate à violência: “Eu vou tentar. Estou assumindo compromisso”, afirmou.

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