
Brasil – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira (6) que não pretende usar a Lei da Reciprocidade, recém-aprovada pelo Congresso Nacional, em reação ao tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a produtos brasileiros.
A taxa de 50%, anunciada pelo norte-americano no início do mês passado, começou a valer nesta quarta.
“Estou fazendo tudo isso [tentando negociar com os EUA] quando eu poderia anunciar uma taxação aos produtos norte-americanos. Não vou fazer, porque não quero ter o mesmo comportamento dele [Trump]. Quero mostrar que, quando um não quer, dois não brigam. E eu não quero brigar com os Estados Unidos”, declarou.
O petista citou três principais motivos para “não querer brigar” com os norte-americanos. “Primeiro, porque a relação [entre os dois países] é muito civilizada. Segundo, porque tenho muita relação com o povo americano. Terceiro, porque tenho muita relação com o movimento sindical americano, uma relação histórica, muito antes de o Trump fazer politica. E quero manter essa relação”, elencou, ao citar que pretende continuar a insistir no diálogo.
As falas de Lula foram feitas em entrevista à agência internacional Reuters.
“E também porque não quero causar prejuízo aos trabalhadores americanos. Esse é o sinal que quero dar, que eu vou fazer o que tiver que fazer para ajudar as empresas e os trabalhadores prejudicados, antes de tomar qualquer atitude drástica que possa piorar as coisas”, acrescentou, sem detalhar as medidas. “Se eu falar antes, não serão mais drásticas. Eu tenho que pensar”, completou.
Lula destacou as tentativas do governo brasileiro de negociar a tarifa, oficializada por Trump na semana passada por meio de uma ordem de serviço. O documento deixou quase 700 itens isentos do tarifaço imposto pelos EUA.
“Ora, o que nós não estamos encontrando é interlocução. Na hora em que eles quiserem conversar, vamos encontrar”, acrescentou o petista.
“Estamos trabalhando. Ainda ontem [essa terça (5)], terminamos uma reunião quase 22h. Estamos pensando em como vamos lidar com as empresas brasileiras que vão ter prejuízo. Temos que criar condições de ajudar essas empresas. Temos obrigação de cuidar da manutenção dos empregos das pessoas que trabalham nessas empresas. Temos obrigação de ajudar a procurar novos mercados para os produtos delas, e temos a preocupação de convencer os empresários americanos a brigar com o presidente Trump, para flexibilizar isso”, frisou.
Negociações
Após o anúncio de Trump, em 9 de julho, o petista determinou a criação de um comitê interministerial para discutir o assunto com o setor produtivo. As negociações brasileiras, tanto internamente quanto com o governo dos EUA, são lideradas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
A gestão de Lula considera a taxa absurda e não descarta retaliar e medida. Contudo, por enquanto, a postura tem sido insistir em uma saída diplomática.
Em outra frente, o governo federal decidiu abrir um processo na OMC (Organização Mundial do Comércio) sobre o assunto.
Apesar da postura diplomática e de priorizar o diálogo, Lula tem deixado claro que não pretende ceder.
Lei da Reciprocidade
Publicada no Diário Oficial da União em 14 de abril, a Lei nº 15.122 foi regulamentada por Lula, por meio de um decreto, em 14 de julho.
A legislação autoriza o governo brasileiro a reagir, com base legal, a decisões unilaterais de países ou blocos econômicos que afetem a competitividade do Brasil no mercado internacional.
As contramedidas previstas incluem restrições a importações, suspensão de concessões comerciais, de investimentos e até de obrigações relativas à propriedade intelectual.
O texto determina que qualquer reação deverá ser proporcional ao prejuízo causado e construída com participação do setor privado.
Também prevê a busca por soluções diplomáticas antes da adoção de medidas mais incisivas, numa tentativa de evitar desgastes adicionais à economia nacional.