MANAUS – Em meio à pandemia do novo coronavírus, a capital amazonense vive um momento decisivo. Pelo sétimo dia consecutivo, Manaus registrou mais de 100 óbitos por dia e está próximo de um colapso no sistema funerário caso continue neste ritmo.

Na última sexta-feira, 24, o sindicato das empresas funerárias do Estado do Amazonas alertou para o fato de que o estoque de caixões só seria capaz de atender a alta demanda provocada pelo coronavírus por mais dez dias. No entanto, apenas 600 urnas estão disponíveis para a população amazonense, mudando os cálculos do presidente da entidade, Manuel Viana.

“Nós temos entre 500 e 600 caixões no estoque. Com mais de cem enterros diários, não vai durar mais do que cinco dias”, explicou o presidente.

Com a situação cada vez mais dramática, o setor deposita a esperança em duas possíveis soluções. A Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif) negocia com o Governo Federal a cessão de um ou mais aviões cargueiros para transportar 2 mil caixões de Campinas para Manaus. Neste domingo, em resposta a um contato da Secretaria Especial de Articulação Social, a entidade encaminhou um ofício no qual detalha a quantidade e as dimensões das urnas. Agora, aguarda por uma resposta urgente.

“Se esta operação não for possível, temos que enviar as urnas por caminhão no máximo na terça-feira. E ainda assim não chegarão a tempo. Porque o caminhão leva 11 dias para chegar a Manaus” conta Lourival Panhozzi, presidente da Abredif.

Em outra tentativa, Manuel Viana busca uma ajuda do Acre. Segundo ele, membros do governo estadual tentam disponibilizar um avião para buscar as urnas funerárias em Campinas.

A falta de caixões já não é o único sintoma do caos funerário na capital do Amazonas. Com a alta demanda por sepultamentos, a força de trabalho atual já dá sinais de esgotamento. E o serviço se acumula. De acordo com Viana, o cemitério do Tarumã abrirá nesta segunda com uma fila de 40 enterros. A espera irrita os parentes, que já vem de um processo desgastante para obter a liberação dos corpos dos hospitais.

Para tentar solucionar ou ao menos minimizar o caos, a Prefeitura de Manaus adotou duas medidas. A primeira é a disponibilização de cremação gratuita. O serviço está disponível desde sábado. Mas, como não há esse hábito na cidade e a informação ainda não chegou ao conhecimento de todos, a adesão ainda é baixa. No primeiro dia de serviço gratuito, apenas quatro corpos foram cremados. As famílias que aceitam são convencidas no momento em que tentam dar entrada no processo de sepultamento.

Outra medida terá início nesta segunda, quando os enterros passarão a ocorrer em camadas triplas. As trincheiras, como são chamadas as valas comuns, passarão a ser mais profundas de modo que caibam três fileiras de caixões uma sobre a outra.

Todo este cenário é decorrente da enorme quantidade de sepultamentos diários. Na última semana, foram 847 sepultamentos de acordo com a prefeitura. A média é de 121 a cada 24 horas. Apesar do número elevado, apenas 57 tiveram a Covid-19 como causa da morte. Uma diferença que mostra o tamanho da subnotificação no Estado do Amazonas.

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