Na zona centro-oeste de Manaus, um buraco ganhou mais visibilidade do que muitas obras da Prefeitura. Indignado com a cratera decorando a rua no Conjunto Santos, bairro da Paz, um morador resolveu inovar: cravou no asfalto uma placa de alerta com os dizeres “Cuidado! Buraco do meu prefeito”. Um toque de ironia para quem já cansou de esperar.

Segundo o autor da intervenção, ele chegou a pedir ajuda pessoalmente a um engenheiro da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf). O técnico, seguindo o script tradicional, respondeu com a promessa padrão: “vou ver isso aí”. Aparentemente, “ver” significa passar com um carro oficial da prefeitura, dar uma olhadinha e… levar a placa embora. O buraco, claro, ficou.

Inconformado com o zelo da gestão David Almeida (Avante) em proteger a imagem – e não a via –, o morador voltou no dia seguinte com uma nova investida: “Placa n°2: a primeira a prefeitura levou, mas o buraco ficou”. Ponto para a persistência popular. Zero para a manutenção urbana.

E como Manaus é quase uma gincana de buracos, outro motorista decidiu criar seu próprio programa de governo: agora anda com um spray no carro e numera os buracos que encontra, um por um. Segundo ele, é um “auxílio visual” para ajudar o prefeito a descobrir onde estão os problemas da cidade. Spoiler: é mais fácil listar onde não tem.

Enquanto isso, a Prefeitura segue firme no papel de coadjuvante. Ignorando até o Ministério Público do Amazonas (MPAM), que cobra transparência no cronograma do programa “Asfalta Manaus”, a administração renovou 13 contratos milionários com empresas do setor – mais de R$ 144 milhões –, mesmo com suspeitas no ar e crateras sob os pés.

Na Câmara Municipal, o vereador Sargento Salazar (PL) tenta furar o bloqueio de promessas e apresentou o “Buraco Zero”, projeto de lei que cobra medidas reais e penalidades pela omissão. Em resumo: querem que a Prefeitura tampe buracos de verdade, e não apenas com propaganda.

Enquanto isso, quem vive em Manaus continua driblando as armadilhas do asfalto, improvisando sinalizações e rezando para que, um dia, a Prefeitura se comova – ou tropece – nos próprios buracos que deixou para trás.

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