Brasil – A cantora, compositora e pianista Angela Ro Ro morreu aos 75 anos, nesta segunda-feira (8). Ela estava internada desde julho, quando passou por uma traqueostomia. A notícia foi confirmada ao jornal O Globo por Laninha Braga, ex-namorada que estava cuidando da cantora, e pelo produtor Paulinho Lima, amigo da artista. Angela teve uma parada cardíaca após um procedimento cirúrgico.

A morte foi confirmada durante a recuperação de uma cirurgia no Hospital Silvestre, no Cosme Velho, no Rio. Ainda segundo o veículo, a cantora teve hipotensão grave, parada cardíaca, foi reanimada por 15 minutos, mas não sobreviveu.

No início de agosto, ela voltou a se comunicar por meio da fala. Todo o processo e internação foram acompanhados pelo advogado Carlos Eduardo Campista de Lyrio, representante de Ro Ro, que usava as redes da cantora para divulgar o Pix para doações. Ela mesma fazia o apelo antes da internação, fazendo apelo a colegas, clamando por mais trabalho.

Trajetória marcante na música

O sobrenome artístico de Angela Ro Ro veio de um apelido de infância, fazendo uma referência à sua voz rouca. Ela começou a carreira na década de 1970, trabalhando como cantora na noite carioca, até conseguir chamar a atenção das gravadoras.

A artista lançou o seu primeiro disco, que foi marcado pelo sucesso Amor Meu Grande Amor, que alçou entre os grandes nomes da música popular brasileira.

Em 1971, mudou-se para Londres e conciliou o trabalho de faxineira e garçonete com o de cantora e pianista. Na volta ao Brasil, em 1974, passou a se apresentar nas casas noturnas mais badaladas do Rio, tendo o repertório escolhido de acordo com as suas preferências pessoais: Ella Fitzgerald, Jacques Brel e Maysa, entre outros artistas.

Angela Ro Ro chegou ao auge da fama na década de 1980, mas sofreu por conta de polêmicas na mídia, que falavam sobre o seu temperamento forte e também o abuso do uso de drogas. “Casei várias vezes, quer droga pior? Mas parei com as drogas, só não parei de casar”, declarou em entrevista Gilberto Barros em 2014.

Em entrevista ao Uai em setembro de 2017, ela refletiu: “Sou a pessoa que, muito novinha, caiu na besteira de experimentar álcool e me vi refém dele depois. Além disso, sou linda, gostosa e polêmica. E isso fez com que eu me tornasse uma das figuras mais usadas pela mídia. Apanhei de tudo quanto é lado, acusada do que fiz e do que não fiz. Acho que sou mártir em vida mesmo! [risos]. Mas, por favor, não me canonizem! Não me canonizem, porque acho é pouco. De onde eu estiver, morta ou viva, vou sentir desprezo por quem fizer isso comigo! [risos]”, disse.

Declaradamente homossexual, Angela falava abertamente sobre o assunto: “Já experimentei [ficar com homens] para saber que não gostava. Eu gosto de mulher”.

O preconceito, ela contava, fez com que ela sofresse ataques: “Fui espancada cinco vezes por homofobia. Perdi a visão do olho esquerdo. Era a nossa própria segurança pública do Rio de Janeiro, que fez os cinco espancamentos. Quatro militares desde a Ditadura e um pela [polícia] civil, depois da Ditadura”.

“Eu queria ser freira, mas não deu certo. Fiz esta escolha porque sou estranha (…). Estudei oito anos em colégio de freira”, contou Angela em entrevista ao Superpop! em 2013

Durante uma conversa com Pedro Bial, Angela soltou algumas pérolas, como: “Inventava desculpas para não transar. Passei a vida inteira brochando”, “Ainda vou escrever um livro: ‘As que eu não comi’. Dá um livro de diversos processos” e “Sexo comecei a fazer agora, de novembro para cá”

Zizi Possi

Angela viveu um turbulento romance com Zizi Possi há cerca de 30 anos e, quando as duas viravam assunto em páginas policiais, Ro Ro declarava irônica em seus shows: “Vocês já sabem: eu sou a única cantora lésbica da MPB”.

“Queria cantar com tanta gente. Com Zizi seria engraçado, de verdade. Penso nisso com a cabeça de produtora. Desde 1998 tenho esse projeto na cabeça. Meu escritório chegou a procurá-la, mas não tive muita sorte. Seria engraçado um show comigo cantando músicas dela e vice-versa. O que aconteceu foi um trágico equívoco e um show chamado A Paz’ [música eternizada na voz de Possi] seria bonito e daria uma bilheteria maravilhosa. Vou pagar alguns poucos anos de saúde com a bilheteria”, comentou Ro Ro à revista Época em 2013.

Artigo anteriorSine Amazonas divulga 237 vagas de emprego para esta terça-feira
Próximo artigoPresidente Roberto Cidade propõe inclusão de bombas de insulina e sensores de glicose no Estatuto do Portador de Diabetes