
Brasil – Já imaginou manter uma conversa por cartas com um dos assassinos em série mais temidos do Brasil? Essa foi a ousada decisão da fonoaudióloga luso-brasileira Simone Lopes Bravo, que buscava entender a mente do infame “Maníaco do Parque”, um criminoso confesso responsável por pelo menos 11 assassinatos e condenado por sete, além de ter atacado 23 mulheres. Suas vítimas eram geralmente jovens e vulneráveis, atraídas por suas técnicas de sedução.
Como foi essa relação?
Simone trocou mensagens com Francisco de Assis Pereira, o homem por trás desses crimes que chocaram o país. Em uma revelação exclusiva ao UOL, ela compartilha detalhes sobre essa intrigante troca de mensagens, que culminou no livro “Maníaco do Parque: A Loucura Lúcida”. A curiosidade pela psiquiatria motivou Simone a contatar Pereira, que estava há 10 anos sem receber visitas.
Distância não foi problema
Embora viva em Portugal, Simone se fascinou pela história macabra de Pereira e conseguiu trocar mensagens com ele por meio de sua irmã, que reside em Taubaté. Essa experiência única e perturbadora não só explora a mente de um dos mais notórios criminosos do Brasil, mas também revela a determinação de Simone em compreender a psicologia por trás do crime.
O que ela descobriu?
“Ele foi muito solícito: queria saber do projeto, receber minha visita. Foi uma carta direta, parecia que estava feliz e se disse ‘convertido’. Ele disse que minha carta chegou com propósito, como uma resposta de Deus para ele. Desde então, foram mais de 50 cartas trocadas — e até hoje continuamos -. O tema central dele é espiritualidade, tanto é que a primeira coisa que ele pediu para eu levar era uma Bíblia”.
Pensamentos confusos
Ela revela que a mente do criminoso era confusa: “Muitas vezes precisava da ajuda do psiquiatra para decodificar o que o Francisco dizia, porque o pensamento dele é desorganizado. Às vezes, só escrevia sobre a Bíblia; outras vezes, perguntava, como todo recluso, quando eu iria vê-lo. Começava um assunto, terminava em outro: o que mais me chamava atenção era a desorganização do pensamento”.
Simone visitou o criminoso
Em abril de 2023, Simone veio ao Brasil e encarou face a face um dos homens mais temidos do país: “Fui bem recebida e havia proximidade, mas a comunicação nunca é fácil porque sempre há manipulação e confusão. Sei da periculosidade dele e o vejo como um ser humano muito doente. E que não pode estar novamente em sociedade”, disse ela.
Ela revela que foi difícil manter o contato, pois as falas eram desconexas, o que aumentava a dificuldade de obter respostas concretas: “A manipulação dele era nítida. Quando ele não concordava com algo, manipulava as coisas para serem como ele queria que fossem. Isso se manifestava tanto nas respostas quanto no comportamento”, pontua ela, que descreve as conversas como “emocionalmente impactantes”.
“É uma pessoa doente”, afirma
Mesmo após a publicação do livro, Simone Lopes Bravo e Francisco de Assis Pereira continuam trocando cartas, revelando uma dinâmica intrigante e complexa. Simone expressa sua consciência sobre a gravidade da doença mental de Pereira e defende a necessidade de um sistema prisional especializado para indivíduos como ele. “Agora, nos comunicamos por cartas, mediadas pela advogada. Tenho plena noção de que ele é uma pessoa profundamente doente. As patologias mentais ainda são um tabu na sociedade, e nosso sistema carcerário não está preparado para lidar com isso”, afirma.
Simone, ao compartilhar sua experiência, busca não apenas entender a mente de um assassino, mas também abordar as questões sociais e psicológicas que envolvem a criminalidade.