Na luta contra o vírus da AIDS, inúmeras pesquisas já foram iniciadas na busca por uma vacina eficaz e segura para a prevenção de novas infecções, mas a maioria dos estudos não obteve conclusões positivas. Agora, a Iniciativa Internacional da Vacina da AIDS (IAVI) e a Scripps Research anunciaram que um potencial imunizante contra o HIV obteve sucesso durante os estudos clínicos de Fase 1 em humanos.

Durante a pesquisa inicial por um imunizante contra o vírus da AIDS, os pesquisadores testaram uma nova abordagem contra o agente infeccioso que afeta que mais de 38 milhões de pessoas em todo o globo. Esta vacina busca estimular a produção de células imunes raras no organismo dos voluntários e que são fundamentais para o processo que gerará anticorpos contra o vírus de mutação acelerada, o HIV.

Entendendo a Fase 1 da pesquisa para vacina contra o HIV

Na maioria dos casos, o desenvolvimentismo de um imunizante leva anos e, nesse longo percurso, existem algumas exceções, como as vacinas contra a COVID-19, desenvolvidas em cerca de um ano frente à urgência e emergência da pandemia. No entanto, o cenário pandêmico do novo coronavírus (SARS-CoV-2) foi excepcional — por exemplo, em capital investido ou ainda nas mutações menos frequentes do agente infeccioso. Por outro lado, lidar com o vírus da AIDS é um grande desafio, principalmente pela sua capacidade de mutação.

Antes dos testes de Fase 1, a potencial fórmula contra o HIV foi testada em laboratório, ou seja, in vitro. Em um segundo momento, um número reduzido de humanos — menos de 50 voluntários — entrou em contato com a candidata a vacina. Esta é considerada, então, uma avaliação preliminar da segurança do imunizante, feita com voluntários adultos saudáveis e que são monitorados de perto. A ideia é entender a toxicidade e possíveis efeitos colaterais, além de se começar a compreender qual tipo de resposta imune o corpo produz.

Nesta etapa, o ensaio observou 48 voluntários adultos, saudáveis e que não vivem com HIV nos Estados Unidos. O total de participantes foi dividido em dois grupos, sendo que um recebeu a vacina em testes e o outro teve aplicado um placebo (substância inócua). Em ambos os casos, foram aplicadas duas doses da substância com dois meses de intervalo entre elas. Durante o período, não houve nenhum problema relacionado à segurança do composto, mas os participantes ainda serão monitorados pelos próximos 12 meses.

Segundo os pesquisadores, 97% dos voluntários do grupo que recebeu a potencial vacina contra o vírus da AIDS desenvolveram as células imunológicas esperadas para responder a uma potencial infecção pelo HIV. Estes resultados, mesmo preliminares, foram considerados bastante positivos pelos cientistas envolvidos e indicam um caminho para a produção de anticorpos diretos contra o vírus.

“Este estudo demonstra a prova inicial para um novo conceito de vacina contra o HIV, um conceito que também poderia ser aplicado a outros patógenos”, afirmou William Schief, professor e imunologista da Scripps Research e diretor-executivo de design de vacinas no Centro de Anticorpos Neutralizantes (NAC) da IAVI, cujo laboratório liderou as pesquisas do potencial imunizante.

“Com nossos muitos colaboradores na equipe de estudo, mostramos que as vacinas podem ser projetadas para estimular células imunes raras com propriedades específicas, e essa estimulação direcionada pode ser muito eficiente em humanos. Acreditamos que esta abordagem será a chave para fazer uma vacina contra o HIV e, possivelmente, importante para fazer vacinas contra outros patógenos”, ainda detalhou Schief.

Os resultados iniciais ainda não foram publicados em uma revista científica, mas foram apresentados durante a conferência virtual da International AIDS Society HIV Research for Prevention (HIVR4P) em fevereiro.

Como funciona a potencial vacina contra o HIV?

A ideia por trás da vacina contra o HIV é estimular o corpo a criar anticorpos amplamente neutralizantes e que podem neutralizar diferentes cepas do agente infeccioso. Cientificamente, essas proteínas são chamadas de bnABs e, de forma geral, podem se prender a diferentes pontos da membrana viral. Em outras palavras, não têm um foco específico, como a acontece com a maioria das vacinas contra a COVID-19, que buscam a proteína S (os spikes) do coronavírus.

“Nós e outros [pesquisadores] postulamos há muitos anos que, para induzir bnAbs, você deve iniciar o processo ativando as células B [linfócitos do sistema imunológico] — células que têm propriedades especiais que lhes dão potencial para se desenvolverem em células secretoras de bnAb”, detalhou Schief. “Para obter a resposta certa de anticorpos, primeiro precisamos preparar [e ativar] as células B certas. Os dados deste ensaio afirmam a capacidade do imunógeno da vacina de fazer isso”, completou.

Dessa forma, a primeira etapa da potencial vacina contra o HIV foi concluída. Agora, a IAVI e a Scripps Research preparam uma parceria com a empresa de biotecnologia norte-americana Moderna para desenvolver uma fórmula baseada em mRNA (RNA mensageiro). Vale lembrar que esta tecnologia garantiu que a empresa desenvolvesse uma vacina eficaz e segura contra a COVID-19 e já em uso no mundo.

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