Entre inundações e secas, o ciclo da água se torna “cada vez mais imprevisível e extremo”, com impactos significativos sobre as sociedades, alertou nesta quinta-feira (18) a Organização Meteorológica Mundial (OMM), órgão das Nações Unidas.

“Os recursos hídricos estão sob pressão crescente devido à demanda crescente, enquanto os fenômenos extremos relacionados à água se intensificam”, afirmou a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, durante coletiva de imprensa.

O relatório da entidade sobre o estado global da água revela que a variabilidade do ciclo hidrológico afeta diretamente setores como agricultura, energia, saúde, infraestrutura e economia. A mudança climática tem sido um fator-chave nesse aumento da imprevisibilidade, ampliando a ocorrência de eventos meteorológicos extremos.

Em 2024 — o ano mais quente já registrado — apenas um terço das bacias hidrográficas apresentaram condições normais. Todas as regiões glaciais registraram perdas significativas devido ao degelo. Ao mesmo tempo, a bacia amazônica, partes da América do Sul e do sul da África enfrentaram secas severas, enquanto regiões da África, Ásia e Europa Central registraram chuvas acima da média.

Este é o terceiro ano consecutivo de perda generalizada de gelo nas áreas glaciais. No total, foram derretidas 450 gigatoneladas de gelo — equivalentes a um bloco de 7 km de altura, largura e comprimento, ou à água necessária para encher 180 milhões de piscinas olímpicas. Essa quantidade eleva o nível do mar em cerca de 1,2 mm em apenas um ano, aumentando o risco de inundações para centenas de milhões de pessoas em zonas costeiras. Desde os anos 1970, a perda acumulada de gelo chegou a 9.000 gigatoneladas, provocando um aumento de 25 mm no nível global do mar, segundo Sulagna Mishra, chefe científica da OMM.

Os impactos das mudanças no ciclo da água foram severos em 2024. A zona tropical da África sofreu tempestades extremas, causando cerca de 2.500 mortes e deslocando 4 milhões de pessoas. A Europa enfrentou suas piores inundações desde 2013, enquanto Ásia e Pacífico registraram chuvas recordes e ciclones tropicais, que provocaram mais de 1.000 mortes.

Nos últimos seis anos, apenas cerca de um terço das bacias hidrográficas funcionaram dentro da normalidade; os outros dois terços enfrentaram excesso ou escassez de água. Atualmente, 3,6 bilhões de pessoas têm acesso insuficiente à água por pelo menos um mês ao ano, número que pode superar 5 bilhões até 2050.

Embora a quantidade total de água no planeta permaneça constante, os continentes perdem mais água devido ao aumento do degelo e à superexploração de aquíferos, explicou Stefan Uhlenbrook, diretor de hidrologia da OMM.

Diante desse cenário, a OMM recomenda estratégias como reutilização da água, gestão adequada de aquíferos e armazenamento da água doce proveniente das geleiras, além da otimização do uso agrícola, setor que consome entre 75% e 90% da água disponível.

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