Brasil – A Polícia Civil do Rio de Janeiro e o Ministério Público do Estado (MPRJ) deflagraram nesta quarta-feira, 24 de setembro, a Operação Blasfêmia, contra um grupo suspeito de aplicar golpes por meio de telemarketing religioso em todo o país. De acordo com as investigações, os criminosos cobravam até R$ 1.500 por “promessas de cura” e “milagres”, arrecadando pelo menos R$ 3 milhões em dois anos.

Foram cumpridos três mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares. Luiz Henrique dos Santos Ferreira, que se apresentava como Pastor Henrique Santini ou Profeta Santini, é apontado como líder do esquema. A Justiça determinou o uso de tornozeleira eletrônica, o bloqueio de contas bancárias e o sequestro de bens.

“Essa organização criminosa em nada tem a ver com um culto religioso. A intenção era arrecadar dinheiro e enganar os fiéis”, afirmou o delegado Luiz Henrique Marques, da 76ª DP (Centro de Niterói).

Segundo a denúncia, 23 pessoas foram tornadas rés pelos crimes de estelionato, charlatanismo, curandeirismo, associação criminosa, falsa identidade, crime contra a economia popular, corrupção de menores e lavagem de dinheiro. As penas podem chegar a 29 anos de prisão.

Santini foi localizado em sua casa, em um condomínio na Barra Olímpica. Ele resistiu em abrir a porta para a polícia, que ameaçou arrombá-la antes de conseguir entrar. No local, foram apreendidos computadores, documentos, celulares, dinheiro em espécie e uma pistola dourada, que estava legalizada.

Com 9 milhões de seguidores nas redes sociais, Santini divulgava mensagens religiosas acompanhadas de números de telefone e links para grupos de WhatsApp.

“Santini fazia gravações previamente editadas, e quando o fiel entrava em contato achando que estava falando com ele e pedia orações para uma enfermidade específica, entrava esse áudio. Ao final, era sempre pedida uma contribuição”, explicou o delegado.

As chamadas “doações espirituais” eram feitas por PIX, variando entre R$ 20 e R$ 1.500, de acordo com o tipo de oração ofertada.

A polícia descobriu que o grupo mantinha escritórios de telemarketing em Niterói e São Gonçalo, onde ao menos 70 atendentes se passavam por Santini.

“O profeta Santini, visando a aumentar a arrecadação, contratou pessoas sem nenhuma experiência religiosa para se passar por ele pelo WhatsApp”, disse Marques.

Os funcionários eram recrutados em plataformas on-line e recebiam comissões de acordo com o valor arrecadado. Documentos apreendidos apontam metas rígidas de desempenho e até demissões por baixa produtividade.

Ainda segundo o delegado, os recursos não eram destinados a contas de igreja, mas transferidos diretamente para contas de terceiros ligados ao grupo.

A investigação começou em fevereiro deste ano, quando a polícia flagrou um call center em funcionamento com 42 pessoas atendendo virtualmente. Na ocasião, foram apreendidos 52 celulares, seis notebooks e 149 chips pré-pagos de telefonia móvel. A análise desse material confirmou a atuação coordenada e revelou milhares de vítimas espalhadas por todo o Brasil.

As investigações seguem em andamento para localizar novos prejudicados e identificar possíveis integrantes da organização criminosa.

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