O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, voltou a tentar afastar do governo federal de qualquer responsabilidades pelo colapso de saúde em Manaus (AM). Desde a semana passada, a cidade não tem oxigênio para todos os pacientes da covid-19 e até para bebês prematuros.

“Fizemos tudo o que tinha de fazer. Estamos fazendo e vamos continuar fazendo”, disse Pazuello nesta segunda-feira, 18, no Palácio do Planalto, em entrevista à imprensa.

O general negou a lentidão do governo federal para oferecer ajuda na entrega de insumos como o oxigênio e culpou a imprensa: “Tudo é noticiado e apresentado diariamente. Nada disso chega desta forma a nossa população”, disse. “Essa é a nossa guerra. A guerra contra as pessoas que estão manipulando nosso país há muitos anos”, completou.

O presidente Jair Bolsonaro apoiou protestos feitos no Amazonas, em dezembro, que levaram o governador Wilson Lima (PSC) a desistir do fechamento do comércio. “Sei que a vida não tem preço. Mas não precisa ficar com esse pavor todo”, disse Bolsonaro em 28 de dezembro. “Vi que o povo em Manaus ignorou o decreto do governador do Amazonas”, completou.

Menos de um mês mais tarde, as aglomerações de fim de ano são apontadas pelo próprio governo local como determinantes para a explosão de internações e mortes.

O ministro ainda afirmou que o governo estuda o impacto da variante da covid-19 que foi identificada em Manaus. “Para descobrir o grau de contaminação, se é alto ou normal. Se causa gravidade maior. Se há impacto nas vacinas que estamos projetando ao país”, disse. Pazuello afirmou que não adianta “colocar uma redoma em Manaus”, pois a variante já circula no resto do País.

O governo federal disse ao Supremo Tribunal Federal (STF) que soube no dia 8 de janeiro da falta de oxigênio. No dia seguinte, segundo Pazuello, ele e sua equipe embarcaram para Manaus e houve reforço na entrega de insumos.

Ao lado de Pazuello na entrevista desta segunda, o governador Wilson Lima disse que conseguiu, nesta segunda-feira, equilibrar a distribuição de oxigênio. Ele afirmou também que há preocupação sobre nova pressão na rede de saúde em fevereiro, quando aumentam os casos de doenças respiratórias.

Pazuello afirmou que, mesmo com o exemplo de Manaus, o governo federal não deve realizar novas campanhas para incentivar o distanciamento social e outras medidas contra a covid-19. “O ministério já faz campanha sobre isso. E muito abrangentes”, disse.

‘Tratamento precoce’

A viagem do ministro Pazuello a Manaus, na última semana, ficou marcada pela defesa do uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como a cloroquina e a hidroxicloroquina.

Na entrevista à imprensa nesta segunda-feira, Pazuello irritou-se e disse que jamais elaborou protocolo ou estimulou o uso de qualquer medicamento. Segundo Pazuello, a defesa do governo federal é pelo “atendimento precoce”.

No vocabulário do Ministério da Saúde e do presidente Jair Bolsonaro, porém, este atendimento tem se misturado com a defesa do uso dos fármacos de eficácia contestada. Como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo, Pazuello lançou em Manaus o TrateCOV, aplicativo para médicos que ajuda no diagnóstico e indica o uso da cloroquina e outros medicamentos que são aposta de Bolsonaro contra a covid-19. Em ofício à Secretaria de Saúde de Manaus, o ministério chegou a afirmar que é “inadmissível” não prescrever antivirais contra a covid-19.

“A senhora nunca me viu receitar ou dizer, colocar para pessoas tomarem este ou aquele remédio. Não aceito a sua posição”, disse Pazuello, no Planalto, a uma jornalista que questionava sobre estes remédios. Em seguida, o general afirmou que o governo seguirá entregando o medicamento, “quando solicitado” por Estados. “Nunca indiquei medicamentos a ninguém. Nunca autorizei o Ministério da Saúde a fazer protocolos indicando os medicamentos.”

Em 22 de outubro, quando estava com a covid-19, Pazuello disse que acordou “zero bala” após tomar o “kit completo”, que incluiria hidroxicloroquina, entre outros medicamentos. A declaração foi feita ao lado do presidente Jair Bolsonaro, que disse: “Se algum médico não quiser receitar a hidroxicloroquina, o que faz?” Pazuello respondeu: “O médico chama outro médico, se o paciente quiser tomar, assina lá o compromisso, receita.”

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