
Meses antes da operação que deixou 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, a Polícia Civil reuniu um dossiê de provas que expôs o controle total exercido pelo Comando Vermelho (CV) sobre moradores dessas áreas da zona norte do Rio de Janeiro.
Conversas interceptadas com autorização judicial, vídeos e arquivos de celulares apreendidos revelaram o funcionamento interno da facção — onde decisões sobre vida e morte eram tomadas sem qualquer disfarce.
As ordens partiam do alto comando, nomes como Edgar Alves de Andrade, o “Doca”, e Pedro Paulo Guedes, o “Pedro Bala”, e eram executadas por subordinados que seguiam fielmente as determinações.
Tortura como rotina
Os materiais apreendidos mostram cenas de tortura, espancamentos e execuções ordenadas em tempo real. Lideranças acompanhavam as punições por videochamadas, determinando castigos para moradores e rivais.
Um dos casos que chamou atenção dos investigadores envolve o traficante conhecido como BMW, apontado como executor das “sentenças” impostas pelo CV. Em um dos vídeos, um homem é arrastado pelas ruas, algemado e amordaçado, enquanto implora para não morrer. O agressor ri enquanto a vítima agoniza.
Mulheres também aparecem sendo punidas por comportamentos considerados “inadequados”, como brigas em bailes funk. Elas são forçadas a entrar em tonéis com gelo, em um método classificado pela polícia como tortura com objetivo de humilhação pública.
Treinamento militar no alto do morro
A investigação identificou áreas isoladas usadas para o treinamento armado de novos atiradores. Imagens mostram jovens disparando contra garrafas sob orientação de BMW, em um dos pontos mais altos da Penha — uma demonstração do que autoridades chamam de “profissionalização do crime”.
Além do treinamento e do arsenal, líderes trocavam fotos de carros roubados e negociavam mercadorias a preços abaixo do mercado, evidenciando a atuação da facção em diferentes frentes criminosas.
Expansão e blindagem da cúpula
As investigações também revelam uma estratégia de ocupação próxima a escolas, usada como forma de inibir ações policiais durante confrontos.
O foco do MP e da Polícia Civil era atingir o comando nacional do CV, que utilizava os complexos como refúgio de chefes vindos da Bahia, do Amazonas, do Pará, do Ceará e de outros estados, expandindo a influência da quadrilha.
Mesmo com mandado de prisão, Doca segue foragido. Segundo as autoridades, ele utilizou dezenas de homens armados como barreira humana para escapar. Considerado peça-chave na recente expansão da facção, o criminoso é alvo de uma recompensa de R$ 100 mil oferecida pelo Disque Denúncia.


