Alguns dias depois do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciar que a vacinação contra a covid-19 poderá começar em fevereiro do ano que vem, a população ainda se mantém dividida entre os que querem tomar a vacina e os que não querem. Apesar do cenário cheio de dúvidas e incertezas, as expectativas são boas, segundo o Observatório da Febraban (Federação Brasileira de Bancos). A instituição elaborou um estudo no qual traçou as expectativas dos brasileiros para 2021 e perguntou quantos pretendem se imunizar para evitar a covid-19. O resultado indicou que 64% da nossa população quer e vai se vacinar, com certeza, contra o coronavírus.

Em contrapartida, 8% dos entrevistados afirmou que não vai tomar a vacina, com certeza. O percentual que, apesar de pequeno, traz grandes preocupações uma vez que se trata da saúde e da vida de milhões de pessoas em todo o país. Chama a atenção, neste estudo, o perfil da parcela da população que é avessa à vacinação.

De acordo com o Observatório, a maioria dos que responderam que não vão tomar a vacina pertencem aos grupos mais vulneráveis para a covid-19 – 11% do total são idosos, por exemplo. Também foi verificado que 12% dos que ‘não vão se vacinar com certeza’ apresentam baixos índices de escolaridade. A pesquisa ouviu a opinião de três mil pessoas em todas as regiões do Brasil, entre os dias 22 a 30 de novembro. O resultado foi divulgado no último dia 10.

Impacto

O percentual de brasileiros que estão em dúvidas quanto à vacina e que responderam que “poderão se vacinar” é de 24% dos entrevistados. O estudo também perguntou se a vacinação deveria ser obrigatória e o resultado mostrou que a nossa população está igualmente dividida. Exatos 49% são contra a vacinação obrigatória; e 49% são a favor da vacina ser obrigatória para todos os brasileiros. Já são mais de 9 meses desde que o primeiro caso de covid-19 foi confirmado no Pará. De lá para cá, pelo menos 284 mil pessoas já tiveram o diagnóstico positivo para a doença. Mais de 7 mil paraenses morreram vítimas da doença, segundo os dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) até ontem (18).

A pandemia trouxe inúmeros impactos, sobretudo econômicos, na vida da população. Para se ter ideia, 61% das famílias alegaram que foram afetadas financeiramente pela pandemia de covid-19. Em relação à Economia brasileira, o sentimento é de apreensão. Os dados mostram que 57% da população acredita que a crise econômica será o principal problema que o país vai enfrentar. Outros 45% citam o desemprego entre as principais dificuldades para o ano que vem.

Confira quem pode ou não tomar a vacina contra o coronavírus

Com o começo da vacinação em países como o Reino Unido e os Estados Unidos, dúvidas sobre quem pode ou não tomar a vacina contra a Covid-19 começaram a surgir. A divulgação do plano de imunização do governo federal no Brasil estipulou quais são os grupos prioritários para receberem a vacina, mas vários pontos ainda estão por esclarecer.

Casos de reação alérgica notificados no Reino Unido em pessoas que receberam o imunizante da Pfizer/BioNTech aumentaram os questionamentos sobre quem deve ou não se vacinar. Atualmente, o único grupo para o qual há restrição prévia à vacinação são os menores de 18 anos –porque os estudos clínicos não contaram com crianças até o momento.

Ainda assim, existem casos específicos a levar em conta dentro dos grupos a serem imunizados. Flávio Guimarães da Fonseca, virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas) e pesquisador do departamento de microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais, diz que a primeira recomendação é consultar um profissional. “Se você tem qualquer dúvida sobre se alguma condição de saúde que você tem vai ou não atrapalhar a imunização, procure um médico. Assim, cada caso pode ser avaliado com cuidado.”

Mas há casos para os quais as respostas já existem, seja pelos estudos clínicos das vacinas em desenvolvimento ou graças a conhecimentos científicos anteriores. Afinal, “não há nada de diferente entre a vacina contra a Covid-19 e outras que já estão disponíveis e são utilizadas no SUS para outras doenças”, explica Fonseca. Veja a seguir recomendações para pessoas com alergia, com deficiência, câncer, doenças autoimunes, crianças com comorbidades e outras situações de saúde.

Pessoas alérgicas devem tomar a vacina?

R: Pessoas alérgicas podem tomar qualquer vacina, inclusive as que estão sendo aprovadas agora. Ana Karolina Barreto Marinho, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) explica que, mesmo para a vacina da Pfizer/BioNTech, para a qual se registraram reações alérgicas, apenas em casos específicos alérgicos não devem se vacinar. “As únicas pessoas que não poderiam tomar a vacina são as que já tiveram reações alérgicas graves a vacinas anteriores ou quem é alérgico a um componente dessa vacina, que vai contar com uma bula indicando a sua composição”, explica ela. Sintomas alérgicos graves são aqueles que ocorrem imediatamente após a vacinação. Entre eles se incluem urticária generalizada, falta de ar e crises convulsivas.

Quem já teve Covid-19 precisa tomar a vacina?

R: Assim como acontece com outras doenças, como o sarampo, pessoas que já tiveram Covid-19 podem tomar a vacina, sem nenhum problema. Karen Morejon, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) afirma que essa é outra questão que cada laboratório vai indicar na bula. Ela explica que a vacina da Pfizer, já em aplicação nos EUA e no Reino Unido, é recomendada a quem já teve a doença, “porque não sabemos se o sistema imunológico já está protegido ou não”. O mesmo, diz ela “deve ocorrer com as outras vacinas, quando liberarem as informações, já que não sabemos quanto tempo a proteção natural de uma pessoa que teve a doença dura”.

Pessoas com sintomas de Covid-19, mas sem o diagnóstico, devem tomar a vacina?

R: Não. Nenhum tipo de vacina é recomendada para pessoas que já apresentam sintomas da doença ou que estejam com febre. “O corpo pode já estar lutando contra uma infecção”, diz Marinho. Ela explica que, se a pessoa está com sintomas, o efeito do imunizante pode ser diferente do verificado nos estudos clínicos e, por isso, não é recomendável que ela se vacine.

Pessoas em tratamento de câncer ou outras doenças imunossupressoras podem se vacinar contra a Covid-19?

R: Depende da doença autoimune e do tratamento que está sendo realizado. Marinho explica que pessoas em tratamento de radioterapia ou quimioterapia para qualquer tipo de câncer não devem se vacinar. “A doença está ativa e o tratamento debilita o sistema imunológico, então ela não deve tomar nenhuma vacina. Não é nem mesmo algo específico para a Covid-19.”

Pessoas transplantadas também não devem ser vacinadas, porque após o procedimento tomam imunossupressores, isto é, medicamentos que alteram o sistema de defesa do corpo humano. No entanto, pessoas HIV positivas em tratamento com coquetel de medicamentos podem tomar a vacina contra o coronavírus. “A terapia retroviral faz com que a pessoa tenha o sistema imunológico perfeitamente normal, então ela deve tomar a vacina e será imunizada sem nenhum risco”, afirma Fonseca.

Crianças com comorbidades são grupo de risco, então devem ser vacinadas?

R: Essa é uma questão que ainda não foi respondida. Para Marinho, que além de coordenadora da Asbai é membro do Gabinete de Crise do Covid-19 do Conjunto Hospitalar do Mandaqui e imunologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, as crianças não devem ser vacinadas. “Mesmo crianças com comorbidades não desenvolvem sintomas graves, segundo os dados globais que temos até o momento”, diz ela. Já Fonseca, virologista do CT Vacinas, afirma que essa é uma questão a ser discutida. “O Ministério da Saúde deveria orientar sobre essa questão, porque cada um pode ter uma interpretação. Ao meu ver, as crianças com comorbidades deveriam ser vacinadas. Mas o plano de imunização tem uma lacuna nesse ponto. Eles precisam indicar uma posição geral para o país.”

Pessoas com deficiências físicas ou mentais podem se vacinar com segurança?

R: Sim, pessoas com deficiências que não afetam o sistema imunológico podem se vacinar. Segundo Morejon, não há indícios de que uma deficiência afete a resposta imune, e isso diz respeito a qualquer vacina. “Acredito que há uma confusão nesse ponto, porque a imunodeficiência é a única para a qual temos provas científicas de que altera os efeitos de uma vacina. De resto, todas as pessoas, não importa qual a situação física ou mental, podem ser vacinadas”, explica a consultora do SBI.

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