Depois de quatro meses fazendo uso de uma bolsa de colostomia, o presidente Jair Bolsonaro passará nesta segunda-feira, 28/01, pela cirurgia de reversão do procedimento. A bolsa, que facilita a excreção fecal do paciente, foi implantada em setembro do ano passado, quando o então candidato à presidência sofreu uma facada, durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG), que causou uma perfuração no intestino grosso.

Na época, pela urgência do momento, os médicos que atenderam Bolsonaro optaram pelo uso da bolsa de colostomia para que a função do intestino não se perdesse. Isso acontece porque a parte anterior à lesão no órgão é redirecionada e acoplada à parede abdominal, onde se faz uma ligação com o exterior e a bolsa é posicionada. Todo material fecal, portanto, passa a ser eliminado do corpo por meio dessa ligação.

Na outra ponta, o intestino de Bolsonaro possivelmente foi suturado (costurado) — e esse é um dos motivos pelos quais o risco da próxima cirurgia é alto, conforme os especialistas destacam.

“Quando a cirurgia [de implantação da bolsa de colostomia] é feita por trauma, como no caso de Bolsonaro, uma das bocas do intestino é colocada para fora, mas a outra fica lá dentro, costurada. Para fazer a reversão, não basta apenas religar, é preciso abrir o abdome novamente e fazer o remendo das duas pontas do intestino”, comenta Marciano Anghinoni, cirurgião oncológico e chefe do serviço de Cirurgia Oncológica do Aparelho Digestivo do hospital São Vicente, em Curitiba.

Se a implantação da bolsa de colostomia estivesse programada para acontecer — como é comum em pacientes oncológicos, em grande parte das vezes —, os médicos fariam uma cirurgia de reversão mais simples. “Geralmente, nas cirurgias programadas, os médicos já implantam a bolsa pensando no momento de fechamento [do intestino]. Por isso deixam-se as duas bocas do intestino na mesma região do abdome. Depois, a barriga não precisa ser aberta novamente e o procedimento é mais simples”, explica Anghinoni.

Três meses é o período mínimo que os médicos recomendam para que os pacientes colostomizados esperem antes de se submeterem à cirurgia de reversão da bolsa. O intervalo é importante para que possíveis inflamações, decorrentes da presença de fezes na cavidade abdominal, diminuam.

“Quando é feita a cirurgia de reversão na presença de uma inflamação, ainda tem muita aderência intestinal. Quanto mais tempo se espera, a inflamação reduz e há menos aderências no intestino. É mais seguro fazer a cirurgia com no mínimo um intervalo de três meses, podendo aumentar a até seis meses”, reforça o cirurgião oncológico.

Fístula: Principal inimiga do intestino de Bolsonaro

Fístulas são a complicação mais temida da cirurgia de reversão da bolsa de colostomia, e acontecem quando a emenda ou os pontos no intestino não cicatrizam adequadamente, levando ao extravasamento de material fecal na cavidade do abdome. Se as fístulas surgem logo depois do procedimento, pode exigir novas cirurgias para a correção.

Dos fatores de risco que favorecem as fístulas, pacientes obesos, diabéticos e idosos demandam atenção especial dos médicos. “Pacientes imunossuprimidos, imunodebilitados e desnutridos também. Quanto mais fatores, maior o risco de fístula”, explica Marciano Anghinoni, cirurgião oncológico, que completa: “O Bolsonaro está bem nutrido, não é nem obeso, nem diabético, e não está imunossuprimido. O cenário é mais favorável para a cirurgia. Embora não seja uma cirurgia simples, o tempo que se esperou para a reversão foi necessário, saudável e ideal.”

Dos outros riscos do procedimento, Univaldo Etsuo Sagae, membro titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, lembra que toda cirurgia carrega o risco de hemorragias. “Nas pessoas com colostomia, o contato da pele com as fezes, na barriga, gera o risco de uma infecção na ferida operatória. Mas, com cuidado e curativos, e antibióticos, é um risco contornável”, explica o também professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e da Faculdade Assis Gurgacz.

Intestino volta ao normal sozinho

Depois do procedimento de segunda-feira, Bolsonaro terá de mudar a alimentação, a fim de auxiliar o intestino a recuperar a função normal. Nos primeiros dias, jejum e, então, alimentos líquidos, pastosos e, depois de alguns dias, sólidos.

“Essa evolução depende de como o paciente se comporta no pós-operatório. Depende de quanto tempo o intestino levará para funcionar, e isso é relativo. Para alguns, leva dois dias, mas às vezes, se o médico perceber que há muitas aderências no órgão, o paciente poderá ficar em jejum por um período mais longo, quando se alimentará por nutrição parenteral”, explica Marciano Anghinoni, cirurgião oncológico.

Não será necessário o uso de laxantes ou outros medicamentos para favorecer o intestino, conforme lembra o especialista.

“O paciente pode ter quadros de diarreia nos primeiros dias por causa de uma readaptação da parte do intestino que não recebia mais as fezes. Na religação, a área atrofiada do intestino voltará a trabalhar e absorver os nutrientes, e o paciente pode sentir um pouco de cólica e diarreia. Medicamentos antibióticos e estimuladores da função intestinal ajudam, mas o processo do intestino acontece naturalmente”, reforça Anghinoni.

As informações são do Gazeta do Povo

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