
EUA – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta terça-feira (23/9) que encontrou brevemente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no pequeno intervalo entre os discursos dos dois na 80ª Assembleia Geral da ONU.
“Eu estava entrando e o líder do Brasil estava saindo. Nós nos vimos, eu o vi, ele me viu, e nós nos abraçamos. E aí eu penso: ‘Vocês acreditam que vou dizer isso em apenas dois minutos?’ Nós realmente combinamos de nos encontrar na próxima semana. Não tivemos muito tempo para conversar, uns 20 segundos”, disse Trump.
“Em retrospecto, fico feliz de ter esperado, porque essa coisa não deu muito certo, mas nós conversamos, tivemos uma boa conversa e combinamos de nos encontrar na próxima semana, se isso for de interesse, mas ele pareceu um homem muito agradável. Na verdade, ele gostou de mim”, completou, ao fim do discurso, que durou quase uma hora.
Lula foi o único presidente citado por Trump para um encontro direto. O Palácio do Planalto confirmou a reunião entre os dois para a próxima semana, sem dar mais detalhes. O mais provável é que ela ocorra por meio de videochamada.
Lula mandou recados para Trump em seu discurso
Lula mencionou, em seu discurso na 80ª Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira, as condenações ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado e disse que “falsos patriotas” promovem ações contra o Brasil.
O petista mandou outros recados a Trump, que impôs sanções a autoridades brasileiras e tarifas a produtos brasileiros por causa das ações judiciais contra Bolsonaro. Já Trump, em seu discurso, não citou Bolsonaro.
Primeiro chefe de Estado a discursar, o petista começou dizendo que a autoridade da ONU “está em xeque” com a “consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder”. Segundo ele, isso se deve a seguidos “atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais”.
A fala foi proferida em meio às seguidas sanções e tarifas praticadas pelo governo de Donald Trump contra o Brasil. Neste caso, Lula classifica a situação como “ataques sem precedentes”.
“Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia. A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável. Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil”, disse.
Ao citar diretamente o julgamento que condenou Bolsonaro, Lula disse que foi a primeira vez que um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado democrático de direito.
“Foi investigado, indiciado, julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas. Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”, declarou.
Lula ressaltou que nada justifica o genocídio em Gaza
Ainda no discurso na ONU, Lula se manifestou mais uma vez de forma contrária ao genocídio palestino. Condenando também os ataques do Hamas, o chefe de Estado brasileiro destacou o “uso desproporcional e ilegal da força” ao qual a Palestina é submetida.
Lula mencionava o momento de crescente polarização e instabilidade na América Latina e no Caribe, destacando a preocupação com “a equiparação entre criminalidade e o terrorismo”. Segundo o presidente, “usar força letal em situações que não constituem conflitos armados equivale a executar pessoas sem julgamento”.
A menção à Palestina veio pouco após citar locais que “já testemunharam intervenções que causaram danos maiores do que se pretendia evitar, com graves consequências humanitárias”. Condenando “atentados terroristas perpetrados pelo Hamas”, Lula afirmou que “nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza”, destacando que o massacre “não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo”.
“Ali, sob toneladas de escombros, estão enterradas dezenas de milhares de mulheres e crianças inocentes. Ali também estão sepultados o Direito Internacional Humanitário e o mito da superioridade ética do Ocidente”, afirmou o presidente do Brasil. “Em Gaza a fome é usada como arma de guerra e o deslocamento forçado de populações é praticado impunemente”, acrescentou Lula.
O presidente ainda expressou admiração “aos judeus que, dentro e fora de Israel, se opõem a essa punição coletiva”, destacando a necessidade de apoio internacional. “O povo palestino corre o risco de desaparecer. Só sobreviverá com um Estado independente e integrado à comunidade internacional. Esta é a solução defendida por mais de 150 membros da ONU, reafirmada ontem, aqui neste mesmo plenário, mas obstruída por um único veto”, definiu.
Lula também fez menção ao impedimento da participação de Mahmoud Abbas, presidente palestino, proibido de participar do evento da ONU pelo governo dos Estados Unidos. “É lamentável que o presidente Mahmoud Abbas tenha sido impedido pelo país anfitrião de ocupar a bancada da Palestina nesse momento histórico”, acrescentou, afirmando também que o “alastramento desse conflito para o Líbano, a Síria, o Irã e o Catar fomenta escalada armamentista sem precedentes”.