Brasil – Reynaldo Gianecchini, 50 anos, está em cartaz em A Herança, um espetáculo teatral diferente de tudo que já interpretou. No palco, ele vive um gay conversador, que, a seu ver, é “comparado a um gay bolsonarista no Brasil”. A peça apresenta a comunidade homossexual, de diferentes gerações, nos Estados Unidos. O ator conversou com a coluna sobre a nova fase: na vida pessoal, ao assumir a sexualidade fluida; e, na vida profissional, sem contrato fixo com a TV Globo, o que o deu mais liberdade para outros trabalhos.

Fazer uma peça que retrata a comunidade gay americana é uma forma de quebrar os estereótipos de galã da TV? Um trabalho desse obviamente que tem um monte de coisa em jogo né?

Tem ‘eu’ querer me adentrar mais nesse assunto, entender melhor e olhar como uma lupa para essa comunidade. Tem ‘eu’ também querendo viver esse processo, para ver como me afeta. Com relação a imagem, é muito importante. Eu, que venho de coisas de grande comunicação, como a televisão, tirar a pauta do circuito alternativo e colocá-la no do mainstream dos grandes teatros.

Virou um militante da causa gay?

Pois é, as pessoas falam assim: ‘Você devia militar mais pela causa’. Eu não acredito tanto na meditação à força ou sair aos berros levantando a bandeira. A minha bandeira é ser livre. E talvez a minha militância maior seja as escolhas do que faço. Essa peça, por exemplo, é uma militância.

Você teria coragem de fazer esse espetáculo antes de se assumir?

Acho que não. Tudo é uma coisa que vem junto. Comecei a falar sobre a minha sexualidade mais fluida quando me senti maduro. Eu já tinha olhado bastante para dentro, para entender e poder falar sobre isso. Todo mundo tem o seu tempo para fazer isso, deixar aflorar. Possivelmente antes eu não estaria maduro, nem pronto para falar e aceitar esse trabalho. A gente vive numa sociedade extremamente reprimida, além de ser careta e homofóbica. As pessoas preferem criticar a sexualidade alheia, porque não olham direito para si próprias.

Na peça você interpreta um gay conservador. Como se explica “gay de direita”?

A peça se passa nos Estados Unidos e tem um paralelo absolutamente imediato com o Brasil. Porque a gente viveu a mesma realidade recente deles, um país polarizado, dividido entre direita e esquerda, com muita raiva, muita briga e muita paixão dos dois lados. Lá com o (Donald) Trump e aqui com o (Jair) Bolsonaro. Na peça questionam o fato do meu personagem ser gay e conservador. Mas o personagem argumenta que o fato de ser gay não é o que mais importa na hora que vai votar. E aí todo mundo: ‘Como não?’.

E qual sua opinião?

Acho que é possível, a gente é um pouco contraditório. Todo mundo fica pesando na balança a sua própria história e dentro do contexto político, o que eles acham que pode representar melhor. Porque ninguém é só gay, né?

Com 50 anos, qual o balanço dessa nova fase de vida?

Estou adorando essa fase. É uma fase de mais maturidade para tudo, na minha vida pessoal e na profissional. Estou adorando também não ter mais contrato fixo com nenhuma empresa, o que me dá liberdade grande de escolher melhor os meus projetos. Agora só faço os projetos por obra, ganho por obra, sou freelancer. Então escolho qual quero fazer. E aí senti que meus projetos têm que vir de um outro lugar, de uma necessidade maior de comunicar o que quero viver como artista e como pessoa.

Então não tem vontade de voltar a fazer novelas?

Neste momento, não. Estou bem animado para fazer coisas que não fiz ainda. Fiz só novelas durante 22 anos. Fiz muito pouco teatro, filmes, séries. Queria focar mais nesses projetos curtos e intensos.

Dá vergonha assistir a seus trabalhos antigos?

Hoje em dia assisto com muito carinho e orgulho, gosto de tudo que fiz. O que conta é o que aprendo, o que vivo. Tudo que vivi fazendo novela foi a minha escola. Foi lindo a comunicação com público. Televisão é muito legal, quando se faz um trabalho que pega na veia do povão, que sai na rua e todo mundo vem falar.

Durante muito tempo galã não podia assumir a própria sexualidade. Foi o seu caso?

Os tempos estão diferentes, hoje está mais fácil essa discussão acontecer. É bem possível hoje falar mais sobre sexualidade fluida. Hoje não tenho medo disso me causar qualquer coisa. Adoro falar da minha liberdade, de poder ser quem eu sou com todas as nuances.

Houve boatos de um possível namoro seu com o médico Wadih Vilela.

Fico só olhando essa fofocaiada e acho essa especulação bem boba, mas entendo que há pessoas para consumir esse tipo de fofoca. E tudo bem.

Está pronto para assumir um relacionamento gay?

Eu não sei se eu teria vontade de assumir. Quando eu me relacionar vou pensar, seja com quem for, de que gênero for… Aí vou entender se quero que aquilo fique no privado ou se quero abrir. Não é uma programação.

Fonte: Veja

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