
A crise econômica que se instalou na Amazônia após o colapso do ciclo da borracha mergulhou a região em décadas de estagnação e vulnerabilidade social, afetando profundamente cidades como Manaus e Belém. O cenário só começou a se transformar com a criação da Zona Franca de Manaus (ZFM), concebida como uma estratégia de desenvolvimento para integrar a Amazônia ao restante do país e gerar novas oportunidades econômicas.
Instituída oficialmente em 6 de junho de 1957, a ZFM redefiniu o papel de Manaus no mapa industrial brasileiro. Com incentivos fiscais e liberdade de importação e exportação, previstos no Decreto-Lei nº 288, de 1967, o modelo foi desenhado para estruturar um polo industrial, comercial e agropecuário capaz de sustentar o crescimento regional. Décadas depois, tornou-se a principal âncora econômica do Amazonas e um dos pilares da Região Norte.
Em 2024, o Polo Industrial de Manaus registrou 132 mil empregos diretos e faturamento de US$ 40 bilhões, consolidando seu impacto nacional. Com mais de meio século de existência, a ZFM teve sua vigência prorrogada pelo Congresso até 2073.
Em entrevista ao Metrópoles, o presidente do Conselho Superior do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Luiz Augusto Barreto, destaca que o modelo representa “o maior projeto de desenvolvimento regional do país”. Segundo ele, a Zona Franca simboliza o reconhecimento das desigualdades que historicamente afastam Norte e Nordeste das condições socioeconômicas encontradas no Sul e Sudeste. Hoje, a indústria local responde por quase 2% do PIB brasileiro.
Barreto ressalta que o impacto da ZFM vai além dos números. O polo opera com alto nível de formalização e abriga grandes corporações globais, como Samsung, Honda e Coca-Cola, ao lado de empresas brasileiras. O ambiente multicultural e concentrado favorece eficiência, inovação e a fixação de profissionais altamente qualificados na capital amazonense.
Entre os principais produtos fabricados, destacam-se celulares, televisores, ar-condicionados e motocicletas — Manaus abriga o maior polo de duas rodas das Américas e a segunda maior fábrica da Honda no mundo. A ZFM também reúne mais de 500 indústrias, com forte presença do setor químico e um ecossistema de inovação que irradia para diversos segmentos.
O volume de empregos diretos, afirma Barreto, demonstra que “a vocação da Amazônia é a indústria”. A Zona Franca sustenta indicadores locais de emprego acima da média nacional e financia integralmente o orçamento da Universidade do Estado do Amazonas, presente em todos os municípios — tudo sem uso de recursos públicos adicionais.
Outro diferencial é a exigência de certificações ambientais, como a ISO 14.001, requisito obrigatório para empresas instaladas no polo. O modelo contribui para manter a floresta em pé ao gerar desenvolvimento urbano e pressão econômica menor sobre atividades predatórias no interior do estado.
Para Barreto, a prorrogação dos incentivos até 2073 reforça o reconhecimento do Congresso à efetividade do modelo, novamente preservado durante a reforma tributária. O desafio, agora, é ampliar a divulgação dos resultados. “A sociedade brasileira que conhece a Zona Franca admira e respeita, mas precisamos expandir essa compreensão para o país e para o mundo”, afirma.
Confiante no futuro, ele diz não ter dúvidas de que a ZFM continuará crescendo. “A Zona Franca veio para ficar — e para prosperar. É um modelo de empresa formal, inclusiva e transformadora, que faz a diferença onde está inserida.”


