Brasil – As eleições municipais de 2020 prometem entrar para a história dos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais) do Brasil. Neste ano, o país bateu recorde de pré-candidatos que se declaram pertencentes à comunidade.

São ao menos 435 nomes LGBT que vão tentar disputar o pleito em novembro, segundo levantamento da Aliança Nacional LGBTI+. Em 2016, ano das últimas eleições municipais, foram 256 candidatos.

A imensa maioria (425) vai tentar disputar cargos de vereador para as Câmaras Municipais, enquanto os outros dez tentarão o pleito para prefeito. Os partidos têm até dia 26 de setembro para fazer a oficialização de seus candidatos.

De acordo com os dados, colhidos por meio de um formulário preenchido pelos próprios candidatos, dos 36 partidos hoje aptos para disputar as eleições, 33 deles têm nomes LGBT. A liderança, até agora, está com o PT, com 66 pré-candidatos. Em seguida, PSOL (65), PDT (62), PCdoB (40), PSB (37), Rede (27), PSDB (20), PV (15), CDN (11), DEM (9), entre outros que têm menos de oito candidatos.

Diferentemente da diversidade de siglas, há uma prevalência de candidatos homens gays, em relação às outras orientações sexuais ou identidades de gênero presentes dentro da comunidade LGBT. Serão 223 gays, o que corresponde a 51,3% de todos os nomes. (Veja mais no gráfico abaixo).

Esses são os dados mais recentes, mas diariamente novos nomes se inscrevem como candidatos LGBT ou aliados.

“É esperançoso vermos tantos pré-candidatos que se declaram LGBT e alguns aliados, porque assim vamos conseguir entrar nas pequenas cidades e em todos os partidos. Em 1990, tínhamos 5% de apoio da população, hoje temos 67% e isso precisa ser aproveitado”, diz Toni Reis, diretor-presidente da Aliança Nacional LGBTI+.

Além de apoiar as candidaturas, a organização, que atua desde 2003 na defesa a população LGBT, vai também treinar essas pessoas interessadas a ingressar na política, bem como garantir que eles firmem um compromisso de atuar na promoção de políticas públicas que dê segurança à essa parte da população.

Importância da representatividade legislativa

Historicamente, o Brasil teve pouquíssimos nomes que representaram os direitos dos gays, lésbicas, bissexuais e transsexuais no poder legislativo. Hoje, inclusive, o Congresso Nacional tem apenas dois políticos eleitos (o deputado David Miranda, do PSOL, e o senador Fabiano Contarato, da Rede).

E essa falta de representatividade trouxe desafios para a comunidade ao longo dos anos. Até hoje, todos os direitos garantidos à essa parcela dos brasileiros — como casamento e adoção autorizados e criminalização da homofobia — partiu de ações da sociedade civil que contestou o Supremo Tribunal Federal.

“O que chamamos hoje de conjunto de direitos LGBT não foram efetivados via poder legislativo, por isso a representatividade é tão importante. Com dois parlamentares gays hoje no Congresso Nacional, o que eles conseguem fazer sozinhos?”, diz Lucas Bulgarelli, antropólogo e pesquisador sobre diversidade e inclusão.

Há o entendimento por parte de especialistas que o aumento de candidatos LGBT nas eleições tem relação com as crescentes ameaças e violências que são registradas diariamente no país, que hoje é um dos mais violentos para a população LGBT.

O próprio presidente Jair Bolsonaro tem um histórico de declarações homofóbicas. Em entrevistas, ele já disse em que é “homofóbico, com muito orgulho” e que preferia ter um filho morto a um filho homossexual.

Sem uma representatividade em massa nos poderes legislativos do país, as empresas e a sociedade civil têm sido os que mais pautam temas de diversidade e inclusão nos últimos anos no país.

“Não é responsabilidade exclusiva do meio empresarial e nem vai ser ele sozinho que vai conseguir endereçar questões estruturais urgentes para a população LGBT”, diz Ricardo Sales, consultor de diversidade e pesquisador na Universidade de São Paulo.

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