Horas depois de vazar nas redes sociais uma série de áudios em que o jornalista Chico Pinheiro, âncora do Bom Dia Brasil, defende o ex-presidente Lula, preso no último sábado (7/4), Ali Kamel, diretor-geral de Jornalismo da Globo, divulgou um comunicado criticando o comportamento dele. O e-mail, enviado no domingo (8) aos jornalistas da emissora, é uma advertência às preferências públicas dos profissionais.
Nas gravações disseminadas pela web, Pinheiro se mostra apaixonado pelo petista: “O fetiche deles era Lula na cadeia. Não foi do jeito que eles queriam, mas o Lula foi, e agora? O que vão fazer agora? Como é que fica? Qual é o próximo passo? Que o Lula tenha calma e sabedoria, inspiração divina para ficar quieto onde está”. A gravação foi publicada em um grupo fechado no WhatsApp no domingo (8).
Para encerrar seu discurso, o jornalista declarou que “a direita está louca” e “os coxinhas estão perdidos”. Depois de tomar conhecimento do episódio, Ali Kamil teve de intervir, falando sobre “danos” à Rede Globo causados por manifestações públicas de seus empregados.
Sem citar Chico Pinheiro, o comunicado informa que “não se pode expressar essas preferências [políticas e partidárias] publicamente nas redes sociais, mesmo aquelas voltadas para grupos de supostos amigos”. Completa: “Uma vez que se tornem públicas pela ação de um desses amigos, é impossível que os telespectadores acreditem que tais preferências não contaminam o próprio trabalho jornalístico”.
Além disso, Kamel ressalta que a “contaminação” compromete o trabalho do jornalista em uma eleição – por exemplo, como Chico Pinheiro entrevistará um candidato de direita agora? “O dano está feito”, escreveu. O diretor-geral relembrou outro recado que havia dado em dezembro passado, quando alertou os profissionais para evitarem divulgar marcas de produtos nas redes. Confira o comunicado distribuído nesta segunda-feira (9):
“Em e-mail no ano passado, eu alertei para o uso de redes sociais. Na ocasião, lembrei que jornalistas, de forma não proposital, publicavam fotos em que marcas apareciam. Eu alertei então para aquilo que todos nós sabemos: jornalistas não fazem publicidade e que todo cuidado é pouco para evitar que nossos espectadores equivocadamente pensem que se descumpre esse preceito.
Hoje, volto a falar sobre o uso de redes sociais. O maior patrimônio do jornalista é a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese, pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico. É como agimos. Daí porque não se pode expressar essas preferências publicamente nas redes sociais, mesmo aquelas voltadas para grupos de supostos amigos. Pois, uma vez que se tornem públicas pela ação de um desses amigos, é impossível que os espectadores acreditem que tais preferências não contaminam o próprio trabalho jornalístico, que deve ser correto e isento.
Como entrevistar candidatos, se preferências são reveladas, às vezes de forma apaixonada? O mais grave é que, quando os vazamentos acontecem, as vítimas, com toda a minha solidariedade, dizem que foram mal interpretadas. Não importa, o dano está feito. A Globo é apartidária, independente, isenta e correta. Cada vez que isso acontece, o dano não é apenas de quem se comportou de forma inapropriada nas redes sociais. O dano atinge a Globo. E minha missão é zelar para que isso não aconteça. Portanto, peço a todos que respeitem o que está em nossos Princípios Editoriais (e nos dos jornais sérios de todo o mundo):
“A participação de jornalistas do Grupo Globo em plataformas da internet como blogs pessoais, redes sociais e sites colaborativos deve levar em conta três pressupostos: (…) 3 – os jornalistas são em grande medida responsáveis pela imagem dos veículos para os quais trabalham e devem levar isso em conta em suas atividades públicas, evitando tudo aquilo que possa comprometer a percepção de que exercem a profissão com isenção e correção.”
É com isso em mente que envio esse e-mail.
Ali”