Brasil – Uma invasão militar da Venezuela na Guiana piorará as relações já estremecidas do país comandado pelo ditador Nicolás Maduro com o mundo, incluindo o Brasil, afirmaram à EXAME interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Além disso, Lula não apoiará nenhum conflito armado e pode até romper relações com o aliado histórico, em caso de guerra, disseram os mesmos auxiliares do chefe do Executivo.

“Havia um esforço de diversos países, inclusive os Estados Unidos, para reduzir sanções e reestabelecer o diálogo com a Venezuela. Essa postura eleitoreira de Maduro e uma eventual guerra piorará as relações venezuelanas com o mundo, incluindo o Brasil”, disse um assessor de Lula.

Os interlocutores do presidente brasileiro relembraram que Lula reestabeleceu as relações diplomáticas entre os dois países e que o petista trabalhava para ajudar o governo Maduro.

“Nenhum conflito armado será apoiado pelo Brasil. Defendemos uma resolução pacífica. Queremos manter a América do Sul como uma região de paz”, declarou um auxiliar de Lula.

Decretos para anexação

Como mostrou a EXAME, Maduro fez mais um evento nesta sexta, 8, para avançar com o plano de anexar parte da Guiana. Frente a uma plateia de apoiadores e de militares, assinou decretos para oficializar anúncios feitos na terça-feira, 5.

Entre as medidas previstas nos decretos, estão a criação de um estado, chamado Guiana Essequiba, a oficialização de um novo mapa da Venezuela, que inclui a área em disputa, a abertura de uma divisão da petroleira PDVSA para atuar na região e conceder licenças de mineração e a criação de um Zona de Defesa Integral da nova região.

Um decreto também prevê a criação de uma alta comissão para defesa e recuperação da Guiana Essequiba. Maduro convocou a comissão para “debater a estratégia para que, até 2030 ou mais, para cumprir o mandato do povo que votou sim”, uma referência à anexação. Madurou nomeou Delci Rodriguez como autoridade máxima dessa comissão.

História do conflito Venezuela x Guiana

Os dois países disputam há mais de um século o território do Essequibo, uma região de 160.000 km², rica em petróleo e minerais, que atualmente é administrada pela Guiana.

O tema voltou a ganhar força depois que a companhia ExxoMobil descobriu grandes reservas de petróleo na região. As tensões, no entanto, aumentaram depois que a Guiana concedeu as licitações a empresas estrangeiras para explorar estas jazidas.

Caracas argumenta que o rio Essequibo é a fronteira natural, como em 1777 quando a Venezuela era colônia da Espanha, e apela ao acordo de Genebra, assinado em 1966 antes da independência da Guiana do Reino Unido, que estabelecia as bases para uma solução negociada e anulava um laudo de 1899, que fixou os limites atuais. A Guiana defende esse laudo e pede que seja ratificado pela Corte Internacional de Justiça.

Como a crise entre Venezuela e Guiana avançou?

No domingo, 3, o governo de Nicolás Maduro fez um plebiscito no qual diz que 96% dos eleitores da Venezuela que compareceram às urnas votou a favor da anexação.

Nos dias seguintes, Maduro celebrou o resultado em vários eventos e pronunciamentos. Em um deles, exibiu o que chamou de “novo mapa da Venezuela”, já com parte da Guiana anexada. Ele também nomeou um general para governar o novo território e determinou que a estatal PDVSA começasse a tomar medidas para atuar na exploração de petróleo na região. Determinou, ainda, que os moradores de Essequibo, a área em disputa, recebam documentos de identidade da Venezuela.
Já houve algum movimento militar?

Além da criação de uma ‘zona de defesa” por Maduro, o Brasil reforçou a presença de militares na fronteira com a Venezuela e a Guiana, e também enviará 20 veículos blindados para a área.

Recentemente, o Exército brasileiro aumentou para 130 o efetivo para patrulhamento na fronteira com a Venezuela. O Pelotão Especial de Fronteira de Pacaraima, em Roraima, que normalmente opera com 70 homens, ganhou o reforço de mais 60 militares na semana passada.
Já houve algum confronto militar entre Venezuela e Guiana?

Até a tarde desta sexta-feira, 8, não. Maduro não disse se pretende fazer uma invasão militar.

Fonte: Exame

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